A espera por um salvador é uma ideia que acompanha a humanidade desde tempos imemoriais. No Egito Antigo, essa imagem foi profundamente enraizada no pensamento humano, alimentando um desejo persistente ao longo dos milênios: a chegada de um profeta intemporal, invencível, que nos libertará das correntes da vaidade, em nome das quais se mata e se morre, sem espaço para reflexões morais.
Esse sonho ancestral, que torna menos árdua a jornada da vida, é tratado com certa sutileza em “O Retorno da Múmia”, na Netflix, o segundo filme da franquia. A trama aborda esses temas ao entrelaçar mitos antigos e modernas inquietações, sugerindo possíveis respostas a um dos grandes enigmas que o ser humano nunca conseguiu decifrar.
Stephen Sommers, experiente em narrativas que exploram monstros e seres atravessando milênios, manipula os elementos da história com precisão, resultando em um filme que abraça seus exageros com orgulho. O diretor e roteirista usa esta obra como alicerce para outras produções, onde explora a influência de criaturas de tempos arcaicos sobre o cotidiano das pessoas comuns de hoje.
Desde o nascimento, o ser humano enfrenta uma luta incessante contra o único adversário que jamais poderá derrotar, independentemente do tempo que passe. Sem pressa, a morte, o mais cínico dos carrascos, nos permite desfrutar de ilusões confortáveis que escondem promessas efêmeras de felicidade. No entanto, a humanidade está condenada a perseguir a miragem da felicidade, pois o mundo, assim como na alegoria da caverna de Platão (428 a.C. — 348 a.C.), é apenas uma representação distorcida de nossas projeções internas, impregnadas de idiossincrasias diversas.
Essas distorções nos mantêm cada vez mais presos em nossos próprios sonhos e delírios. A morte, que nos ronda constantemente, pode ser comparada a moscas em torno de um manjar rico, mas de sabor amargo. No entanto, antes da morte, é o acaso que se insinua sem cerimônia, afetando pessoas de todas as origens e culturas. É com esse acaso que lidamos diariamente, na esperança de escapar de suas armadilhas, mas também à mercê de aproveitar suas indulgências repentinas, vivendo momentos que, embora efêmeros, justificam toda a nossa jornada.
Neste cenário, Brendan Fraser retorna como o egiptólogo Rick O’Connell, agora casado com Evelyn Carnahan, a bibliotecária interpretada por Rachel Weisz, que conheceu no filme anterior. O casal, que agora tem um filho de oito anos, Alex, interpretado por Freddie Boath, atravessa a década de 1930 durante a Grande Depressão (1929-1941) em uma Londres vibrante.
Gradualmente, Sommers introduz os personagens secundários, destacando, claro, Imhotep, o maior gênio do período protodinástico e a encarnação da vanguarda transcendente que acompanha os egípcios há milênios. Quando o sarcófago de Imhotep, que deveria levá-lo à eternidade, é profanado, as consequências são potencialmente apocalípticas. Embora seu rosto não seja visível, Arnold Vosloo se destaca como a verdadeira estrela desse melodrama que, com um pé no terror, é intencionalmente trash e até um pouco carnavalesco.
Filme: O Retorno da Múmia
Direção: Stephen Sommers
Ano: 2001
Gêneros: Aventura/Ação/Terror
Nota: 8/10