Ganhador do Festival de Veneza e do BAFTA, filme de Tom Ford com Aaron Taylor-Johnson está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Ganhador do Festival de Veneza e do BAFTA, filme de Tom Ford com Aaron Taylor-Johnson está na Netflix

É difícil encapsular “Animais Noturnos” em poucas palavras. Não se trata de um filme notável nem decepcionante, mas indiscutivelmente se destaca como uma das obras mais instigantes lançadas em 2016. A trama, em grande parte concebida pela mente criativa e ousada de Tom Ford, reflete a identidade multifacetada do estilista que se aventurou com sucesso no universo cinematográfico.

Para aqueles que ainda criticam Ford por sua estreia em “Direito de Amar” (2009), atribuindo o mérito mais ao apoio de roteiristas talentosos do que à visão do diretor, “Animais Noturnos” serve como uma clara afirmação da habilidade de Ford em moldar sua narrativa. Aqui, ele demonstra um controle firme, não apenas dirigindo, mas também imprimindo sua marca autoral.

O longa não se limita a ser o esforço de um cineasta em busca de sua voz. A narrativa se complica quando Ford, em determinado momento, parece insatisfeito com a história em mãos e decide transformar o filme em um manifesto. É nessa transição que o enredo perde parte de sua força inicial.

O filme começa provocando, especialmente com suas imagens de abertura. Os corpos nus que desfilam pela tela desafiam os padrões convencionais de beleza, um contraste irônico vindo de alguém cujo nome é sinônimo de elegância e alta costura. A escolha de Ford de filmar essas cenas em câmera lenta adiciona uma camada de desconforto, como se o objetivo fosse não apenas desafiar, mas incomodar o espectador.

Essas figuras femininas são as protagonistas de uma exposição de arte organizada por Susan, uma galerista de Los Angeles, interpretada com precisão por Amy Adams. O mundo de Susan é cercado por luxo, mas vazio em substância, refletindo sua própria vida. Seu casamento com Hutton, vivido por Armie Hammer, é apenas uma fachada, sustentando uma existência que ela reluta em abandonar, temendo perder seu status social.

A chegada de um manuscrito de Edward Sheffield, o primeiro marido de Susan, marca um ponto de virada na história. O texto, enviado com uma nota enigmática, deixa Susan desorientada. Em um momento de vulnerabilidade, ela questiona até que ponto as escolhas definem nossas vidas, uma reflexão que ela, ironicamente, evita explorar profundamente.

A narrativa do filme adota uma atmosfera onírica e inquietante, especialmente quando segue Tony Hastings, outro personagem interpretado por Jake Gyllenhaal, em uma viagem com sua família pelo Texas. O encontro com Ray, um antagonista interpretado por Aaron Taylor-Johnson, resulta em uma das cenas mais intensas do filme, sugerindo que os eventos podem ser um reflexo dos medos e angústias de Susan, exacerbados pela leitura do livro de Sheffield.

À medida que a história avança, subtramas que exploram o relacionamento não resolvido entre Susan e Sheffield emergem, revelando feridas do passado que ainda sangram. Ford explora com maestria temas como o valor subjetivo da arte e a influência das emoções humanas na criatividade, propondo um estudo sobre a flexibilidade da estética. Ele questiona o que define a arte e se ela precisa, de fato, cumprir uma função específica, deixando essas indagações abertas para interpretações.

Em última análise, “Animais Noturnos” não oferece respostas definitivas, mas sim provoca uma reflexão sobre a natureza da arte e o impacto que ela exerce, tanto sobre seus criadores quanto sobre seu público.


Filme: Animais Noturnos
Direção: Tom Ford
Ano: 2016
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 8/10