De tempos em tempos, escutamos a frase: “O rock morreu!” Já no final dos anos 1950, havia quem decretasse o fim do nascente rock and roll, após uma série de contratempos e fatalidades que atingiram sua primeira geração: os problemas de Chuck Berry e Jerry Lee Lewis com a justiça, a convocação de Elvis Presley para o exército, as mortes trágicas de Buddy Holly e Eddie Cochran, e o súbito surto religioso de Little Richard.
No início da década de 1960, muitos pensavam que a moda do rock and roll havia passado. No entanto, enquanto a juventude americana dançava ao som do twist, muitos jovens britânicos estavam formando bandas de rock, inspirados não apenas nos pioneiros já citados, mas também em raízes mais profundas do blues e do rhythm and blues afro-americano. Assim, liderada pelos Beatles e pelos Rolling Stones, a “Invasão Britânica” primeiro conquistou os Estados Unidos e, em seguida, o mundo.
Hoje, passados mais de setenta anos desde o seu nascimento, o rock continua vivo e não vai morrer. Ele pode não estar mais no topo das paradas como esteve há algumas décadas, mas segue se renovando e ganhando novos admiradores. No Brasil, o rock tem uma história rica desde a década de 1960, com um marco importante nos Mutantes, que misturaram o rock com elementos tipicamente brasileiros e muito humor. O auge do rock brasileiro ocorreu nas décadas de 1980 e 1990, quando várias bandas alcançaram uma legião de fãs e dominavam as rádios e a televisão.
No final dos anos 1990, o rock nacional perdeu espaço para outros gêneros que passaram a dominar as mídias. Para muitos, o rock deixou de ser relevante no Brasil, e alguns nem sabem mais o que é rock. No entanto, ao longo deste século, bandas e artistas continuam a surgir, produzindo música instigante. A diferença é que, privados da exposição midiática dominante, eles se voltaram para festivais, casas de shows e divulgação na internet.
Quando, há alguns meses, recebi a missão de escrever sobre novas bandas de rock nacional, a ideia inicial era escolher apenas três. Contudo, ao pesquisar e conversar com amigos, percebi que o cenário era muito mais rico do que eu imaginava. Confesso que estava desatualizado sobre o que está acontecendo na cena roqueira nacional e sei que ainda há muito a ser explorado. Diante desse vasto horizonte, resolvi escolher dez bandas de diferentes vertentes, como exemplos da diversidade do rock nacional atual. O principal critério foi: bandas surgidas no século 21 e que ainda estão em atividade.
Antes de falar um pouco sobre cada uma das bandas, quero deixar claro que esta lista tem um caráter bastante pessoal e, certamente, alguém vai sentir falta de um ou outro nome ou questionar a presença de algum. Paciência. Se ao menos uma conexão entre o leitor e as bandas surgir, já terá valido a pena.
Anjo Gabriel é uma banda instrumental que mescla elementos do rock progressivo, psicodélico e do krautrock alemão. Formada em Recife, a banda se destaca pela construção de atmosferas sonoras complexas, que remetem tanto às longas jornadas instrumentais do rock dos anos 70 quanto às experimentações eletrônicas do krautrock. Seus shows são verdadeiras viagens sensoriais, com improvisações que desafiam as convenções e convidam o público a mergulhar em um universo sonoro único. A banda é uma prova de que o rock instrumental pode ser tão ou mais envolvente quanto o vocal, com a música falando por si só.
The Baggios é uma das bandas mais inovadoras do cenário nacional, conhecida por sua fusão de rock, blues e ritmos nordestinos. Originária de São Cristóvão, em Sergipe, a banda incorpora as raízes culturais de sua região em sua música, criando um som que é ao mesmo tempo moderno e tradicional. As letras abordam temas que vão desde questões sociais até introspecções pessoais, sempre com uma abordagem crua e sincera. O som da guitarra e a batida pulsante do blues se encontram com o baião e o maracatu, resultando em uma sonoridade que é ao mesmo tempo universal e profundamente brasileira.
BaianaSystem é um fenômeno musical que transcende as barreiras do rock para incorporar elementos do reggae, do pop e, principalmente, dos ritmos baianos. Formada em Salvador, a banda é reconhecida por sua valorização da guitarra baiana, um instrumento tradicionalmente usado nos trios elétricos do carnaval baiano. Com letras que abordam temas sociais e políticos, BaianaSystem se tornou um dos nomes mais relevantes da música brasileira contemporânea, conquistando um público diversificado. Sua música é um convite para dançar e refletir, combinando a energia do rock com a cadência do reggae e a efervescência dos ritmos afro-brasileiros.
Black Pantera é uma banda de thrash metal de Uberaba, Minas Gerais, que se destaca por suas letras politizadas e de cunho social. O nome da banda é uma homenagem ao movimento dos Panteras Negras, grupo revolucionário dos Estados Unidos que lutava pelos direitos civis dos negros. A sonoridade pesada, com riffs agressivos e vocais intensos, é uma marca registrada da banda, que utiliza sua música como uma plataforma para discutir questões como racismo, desigualdade social e resistência. Black Pantera é um dos nomes mais importantes do metal brasileiro atual, provando que o gênero ainda tem muito a dizer.
Boogarins é uma banda de rock psicodélico que tem conquistado tanto o público brasileiro quanto o internacional. Originária de Goiânia, a banda é conhecida por suas melodias hipnotizantes e letras que evocam sentimentos de introspecção e viagem interior. Influenciados pelos Mutantes e outras bandas psicodélicas dos anos 60 e 70, os Boogarins conseguem criar uma sonoridade própria, com guitarras flutuantes e vocais etéreos. Suas apresentações ao vivo são imersivas, levando o público a uma verdadeira jornada musical. O som dos Boogarins é uma combinação de nostalgia e modernidade, que transporta o ouvinte para paisagens sonoras coloridas e vibrantes.
Carne Doce é uma banda de indie rock que se destacou no cenário musical brasileiro por sua combinação de psicodelia, apelo pop e letras introspectivas. Formada em Goiânia, a banda é liderada pela vocalista Salma Jô, cuja voz poderosa e expressiva é um dos principais atrativos do grupo. As letras da banda abordam temas como amor, dor e autoconhecimento, sempre com um toque poético e melancólico. Carne Doce se destaca pela habilidade de criar músicas que são ao mesmo tempo acessíveis e profundamente emocionantes, conquistando um público fiel e crescente.
Messias Elétrico é uma banda de Maceió que traz uma interessante combinação de hard rock setentista com psicodelia. A banda se inspira no som pesado e distorcido de grupos como Black Sabbath e Led Zeppelin, mas adiciona uma dose de experimentalismo que os torna únicos. As letras da banda são cheias de simbolismo e referências a temas místicos, criando um universo próprio que cativa os ouvintes. Messias Elétrico é uma prova de que o rock clássico ainda tem relevância nos dias de hoje, especialmente quando reinterpretado com criatividade e paixão.
Pata de Elefante é uma banda instrumental de Porto Alegre que se destaca por sua energia contagiante e habilidade técnica. Misturando elementos de rock progressivo e hard rock, a banda cria composições complexas e dinâmicas que não deixam espaço para a monotonia. Suas músicas são cheias de mudanças de ritmo e variações melódicas, mantendo o ouvinte constantemente envolvido. Pata de Elefante é reconhecida como uma das melhores bandas instrumentais do Brasil, com uma sonoridade que agrada tanto os fãs de rock clássico quanto os de música experimental.
Tagore é uma banda de Recife que se destaca por sua fusão de indie rock, rock psicodélico, tropicalismo e MPB com ritmos pernambucanos. Liderada pelo vocalista Tagore Suassuna, a banda traz uma abordagem única para a música brasileira, misturando o tradicional e o moderno de maneira harmoniosa. Suas canções são poéticas e carregadas de sentimento, muitas vezes explorando temas como a saudade, o amor e a busca por identidade. A sonoridade da banda é rica e multifacetada, criando uma experiência auditiva que é ao mesmo tempo relaxante e instigante.
Terno Rei é uma banda de São Paulo que mistura indie rock e pop rock com um certo ar de MPB, criando uma sonoridade suave e introspectiva. As letras da banda são melancólicas e reflexivas, muitas vezes abordando temas como a passagem do tempo, a solidão e as incertezas da vida. A banda se destaca pela simplicidade e elegância de suas composições, que conseguem tocar o coração do ouvinte sem recorrer a exageros. Terno Rei é um nome em ascensão no cenário musical brasileiro, conquistando cada vez mais fãs com sua música delicada e envolvente.