A obra-prima de Steven Soderbergh que fez a Netflix ser processada Divulgação / Netflix

A obra-prima de Steven Soderbergh que fez a Netflix ser processada

“A Lavanderia” entrega ao público uma narrativa que, embora se apresente como uma sátira ácida, revela uma realidade muito próxima e conhecida, especialmente para o público brasileiro. Com 96 minutos de projeção, o filme conduz o espectador por uma história que, em seu desenrolar, não surpreende, mas que sim, desperta uma familiaridade amarga. A trama desenhada por Steven Soderbergh, baseada no roteiro de Scott Z. Burns, propõe-se a ser um relato sobre os intrincados esquemas de corrupção que se espalham pelo globo, desnudando como figuras poderosas e ardilosas manipulam o sistema para seus próprios interesses, enquanto o cidadão comum é deixado à mercê das consequências.

Soderbergh, com seu talento para histórias que envolvem tramas complexas e desdobramentos legais, utiliza sua expertise para criar um filme visualmente vibrante, com cenas ágeis e uma fotografia que, apesar de suas cores vivas, não consegue esconder a sordidez do enredo. Ele recorre a uma estrutura narrativa dividida em capítulos, ou “segredos”, que, um a um, desvelam o funcionamento do esquema financeiro que move a trama.

A história começa em Houston, passa por Nevis e se espalha por paraísos fiscais, locais onde o dinheiro desviado por estelionatários encontra abrigo. A complexidade das operações, que muitas vezes permanecem invisíveis até para as mais sofisticadas agências fiscais, é ilustrada pelos personagens de Gary Oldman e Antonio Banderas. Eles dão vida a Jürgen Mossack e Ramón Fonseca, dois advogados especializados em abrir empresas de fachada que facilitam a lavagem de dinheiro em escala global.

O filme também insere a personagem de Meryl Streep, Ellen Martin, uma viúva que, após uma tragédia pessoal, se vê envolvida no coração de um esquema de corrupção que não só a afeta diretamente, mas também milhões de outras vítimas ao redor do mundo. Embora Ellen não seja a protagonista óbvia, a atuação de Streep traz uma carga emocional que intensifica a crítica social embutida na narrativa.

No final, “A Lavanderia” não oferece uma resolução tradicional. Em vez disso, deixa o espectador com uma sensação de desânimo diante da impunidade que parece acompanhar os crimes financeiros globais, uma realidade que, apesar de ficcionalizada, ressoa profundamente com os eventos do mundo real.


Filme: A Lavanderia
Direção: Steven Soderbergh
Ano: 2019
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 9/10