A história de amor mais linda e que vai te arrancar suspiros, na Netflix Divulgação / Netflix

A história de amor mais linda e que vai te arrancar suspiros, na Netflix

Por mais que alguém possua fortuna, o que o destino reserva é sempre uma incógnita. Em “Uma Linda Vida”, o protagonista é uma dessas almas que atravessam encontros e desencontros em um intervalo que pode parecer curto demais. Quando finalmente sente a possibilidade de uma mudança significativa, o medo de arriscar se torna inescapável.

Mehdi Avaz, cineasta de origem irano-dinamarquesa, demonstra habilidade em conduzir uma narrativa tão delicada a pontos de tensão robustos, permitindo que a história encontre seu próprio ritmo sem interferências excessivas. Avaz maneja com maestria o elemento romântico, introduzindo-o no momento preciso e mantendo o tom fatalista da trama, que se desenrola paralelamente ao desenvolvimento amoroso, sem jamais perder sua essência.

O diretor adapta o argumento de Stefan Jaworski para envolver a narrativa em uma aura de conto de fadas moderno, adicionando toques sutis que fazem a diferença. Desde os primeiros minutos, o filme indica seu rumo, apresentando Elliott, o protagonista vivido com naturalidade por Christopher Nissen, músico de algum destaque na Dinamarca. Ele aparece em uma doca, envolvido na exaustiva tarefa de carregar e descarregar bandejas de peixes em uma manhã que, apesar de ensolarada, traz o frio característico da região.

Através do diálogo entre Elliott e o gerente do cais, torna-se evidente que o personagem enfrenta dificuldades financeiras. Nas cenas seguintes, Avaz começa a desvelar mais sobre essa figura enigmática, permitindo ao público uma visão mais concreta da angústia que ele carrega. O arquétipo do homem endurecido pela vida, introspectivo e melancólico, que resiste aos desafios sem lamentações, parece se encaixar perfeitamente em Nissen, que, ao estilo dos anti-heróis imortalizados por Paul Newman (1925-2008), seduz sem se deixar envolver, mantendo uma postura autossuficiente e resistente.

A narrativa evolui, e fica cada vez mais clara a transformação de Elliott, que enxerga a possibilidade de ganhar a vida através de seu talento artístico. Entretanto, ele também precisa encontrar uma maneira digna de lidar com Oliver, um amigo de tempos passados, cuja presença agora se tornou um fardo. Sebastian Jessen contribui significativamente para a construção dessa relação, intensificando a dinâmica entre os personagens e preparando o terreno para um segundo ato grandioso e potencialmente épico, onde não há espaço para soluções simplistas.

O carisma de Nissen é, sem dúvida, o que mantém o público engajado nesse conto de fadas moderno, que inverte papéis de gênero de forma quase despretensiosa. No início do terceiro ato, um incêndio redefine os rumos da vida de Elliott, levando-o a uma encruzilhada que parece ser uma consequência severa demais por suas decisões passadas, particularmente em relação ao pacto feito com Oliver. Essa virada na trama, embora abrupta, reforça a ideia de que a vida é imprevisível e, muitas vezes, cruel em seus desdobramentos.

No desfecho, a gravação de um clipe musical surge como uma forma de redenção para Elliott, limpando sua consciência dos erros do passado. O romance com Lilly, interpretada por Inga Ibsdotter Lilleaas em uma atuação convincente, sugere o início de uma nova fase na vida do protagonista, um homem que, apesar de seus defeitos e quedas, se levanta a cada tropeço, mantendo intacta a capacidade de sonhar e recomeçar, sem deixar que o lirismo de sua jornada se dissipe.


Filme: Uma Linda Vida
Direção: Mehdi Avaz
Ano: 2023
Gêneros: Musical/Drama/Romance
Nota: 8/10