Justin Lee, em “Terra dos Bravos”, demonstra uma profunda compreensão das tradições do faroeste ao mesmo tempo em que busca inovar dentro de um gênero tão consolidado. No filme, acompanhamos Matthias Breecher, interpretado por Kevin Makely, um caçador de criminosos de guerra confederados que atravessa o oeste pós-Guerra Civil em uma missão de justiça que se desdobra em capítulos. Essa estrutura narrativa é tanto uma homenagem quanto uma tentativa de renovação, com cada segmento apresentando um novo alvo e uma nova dinâmica. No entanto, enquanto a trama se desenvolve de maneira inteligente, o estilo visual do filme opta por uma abordagem reverente e sombria que, em alguns momentos, limita o potencial de uma obra que poderia ser ainda mais ousada.
Cada capítulo em “Terra dos Bravos” segue Breecher na caçada de um novo criminoso, retratado por veteranos consagrados como Trace Adkins, Bruce Dern e Jeff Fahey. Essa escolha de fragmentar a narrativa poderia ter sido uma oportunidade para explorar diferentes facetas do gênero, mas Lee, ao não diferenciar suficientemente esses segmentos, acaba por criar uma uniformidade que permeia o filme. A falta de variação estilística entre as partes faz com que o público, em certos momentos, sinta que a tensão e a energia que poderiam ter sido alcançadas se diluem em um ritmo por vezes previsível.
Apesar disso, o filme é sustentado por um elenco de apoio formidável. Mira Sorvino, Tony Todd e Wes Studi trazem performances que conferem uma autenticidade rara a personagens que poderiam facilmente cair no estereótipo. Sorvino, em especial, brilha como Sarah Cooke, uma mulher presa entre suas responsabilidades familiares e uma crescente atração pelo enigmático Breecher. As atuações desses atores adicionam uma profundidade emocional que contrasta com a rigidez do estilo clássico adotado pelo filme, proporcionando momentos de verdadeira conexão e empatia que enriquecem a narrativa.
O encontro entre Matthias Breecher e Reginald Cooke, vivido por Bruce Dern, é um dos pontos altos de “Terra dos Bravos”. Nesta sequência, Cooke, já debilitado e arrependido, confronta seu passado sob o olhar atento de Breecher, que deve decidir o destino do velho homem. A cena oferece um momento de introspecção e conflito moral que poderia ter servido como um clímax perfeito para o filme. No entanto, ao optar por prolongar a narrativa além desse ponto, Lee corre o risco de enfraquecer o impacto acumulado, estendendo a história de forma que alguns podem considerar desnecessária.
No cômputo geral, “Terra dos Bravos” é um faroeste que, embora solidamente construído e ancorado em atuações poderosas, se limita pela sua reverência ao passado do gênero. Em vez de abraçar plenamente a possibilidade de inovação, o filme mantém-se fiel às convenções, o que, apesar de garantir uma experiência cinematográfica coesa e respeitável, impede que atinja o potencial de trazer algo verdadeiramente novo e excitante para o cenário dos faroestes modernos. É uma obra que, ao mesmo tempo em que honra as tradições, deixa no ar a sensação de que poderia ter explorado caminhos mais ousados e inesperados, alcançando, assim, uma nova vitalidade dentro de um gênero que sempre esteve à beira da reinvenção.
Filme: Terra dos Bravos
Direção: Justin Lee
Ano: 2019
Gêneros: Drama/Western
Nota: 8/10