Explorar temas pessoais e profundos frequentemente leva a resultados artísticos notáveis. O filme “Belfast” de Kenneth Branagh, por exemplo, mergulha de forma tocante na infância do diretor durante os anos 1960 na Irlanda do Norte. O contexto histórico é crucial: o país estava passando por um período turbulento, os Troubles, uma série de conflitos sectários que marcariam profundamente a região nas décadas seguintes.
Kenneth Branagh, um renomado ator e cineasta, consegue transmitir a incerteza e o tumulto vividos por um garoto de nove anos em meio à agitação política e social. O filme é uma recriação pessoal e afetuosa daquele período, com Buddy, o protagonista, servindo como um alter ego para o próprio diretor. A fotografia em preto e branco, assinada por Haris Zambarloukos, captura a essência dos momentos passados, enquanto alguns detalhes ganham vida com cores vibrantes, refletindo a forma como memórias vivas retornam com intensidade, mesmo em meio à tristeza.
“Belfast” é mais do que um simples retrato da infância; é uma homenagem aos que permaneceram, aos que partiram e aos que se perderam no caos dos Troubles. Branagh revisita o verão de 1969, um período crucial dos conflitos, revelando como a violência afetou a vida cotidiana em um bairro operário de Belfast. As cenas de destruição, como janelas estilhaçadas e portas arrombadas, são intercaladas com a vida familiar de Buddy, interpretado de forma brilhante por Jude Hill.
O filme também destaca o desenvolvimento das atuações de Caitríona Balfe e Jamie Dornan, que interpretam os pais de Buddy. Dornan, conhecido por papéis em produções como “Cinquenta Tons de Cinza”, mostra uma maturidade notável em sua atuação, semelhante ao que demonstrou em “O Cerco de Jadotville”. Esta evolução profissional é um dos aspectos mais impressionantes do filme.
Além disso, a presença de Judi Dench e Ciarán Hinds, como os avós de Buddy, acrescenta uma camada extra de profundidade e autenticidade. Dench, uma amiga próxima de Branagh, trouxe sua experiência para o papel, e sua atuação é uma parte vital da narrativa.
“Belfast”, na Netflix, não é apenas uma representação lírica de uma infância marcada por conflitos, mas também um manifesto contra a ignorância e a intolerância. Ao abordar a violência e o medo com um olhar humano e empático, o filme oferece uma poderosa reflexão sobre o impacto dos Troubles na vida das pessoas e sobre a capacidade de resistência e resiliência frente à adversidade.
Filme: Belfast
Direção: Kenneth Branagh
Ano: 2021
Gêneros: Drama/Coming-of-age
Nota: 9/10