Thriller de suspense com Amy Adams, na Netflix, é o mais bizarro e assustador dos últimos 10 anos Merrick Morton/Focus Features

Thriller de suspense com Amy Adams, na Netflix, é o mais bizarro e assustador dos últimos 10 anos

Tom Ford é um nome que, há muito tempo, ultrapassou as fronteiras da moda e do design para se estabelecer também no mundo do cinema. “Animais Noturnos”, lançado em 2016, é um exemplo claro de sua capacidade de criar narrativas complexas e provocativas, com um estilo visual inconfundível. Este filme, que segue sua estreia como diretor com “Direito de Ama” (2009), demonstra que Ford não é apenas um estilista que se aventurou na direção, mas sim um cineasta que compreende profundamente a linguagem e as nuances do cinema.

“Animais Noturnos” é mais do que um exercício de estilo; é uma obra que explora as profundezas da psique humana, envolta em uma estética meticulosamente construída. A abertura do filme já desafia o espectador com imagens que fogem do padrão esperado. Corpos femininos nus, longe dos estereótipos idealizados pela moda e publicidade, dominam a tela em uma sequência que utiliza a câmera lenta para maximizar o impacto visual e emocional. Esta escolha, que pode chocar muitos, não é gratuita; ela prepara o terreno para uma narrativa onde as aparências são constantemente desafiadas e onde as camadas de significado se sobrepõem de forma intricada.

A personagem de Amy Adams, Susan, é o epicentro desse mundo. Como uma galerista de sucesso em Los Angeles, seu estilo de vida é tão deslumbrante quanto vazio. O luxo que a rodeia serve apenas para esconder uma profunda insatisfação, exacerbada por um casamento que se arrasta sem vida. A entrada de um livro manuscrito, enviado por seu ex-marido Edward Sheffield, interpretado com precisão por Jake Gyllenhaal, desencadeia uma série de eventos que forçam Susan a confrontar não apenas seu passado, mas também as escolhas que moldaram sua vida atual.

O manuscrito de Edward não é apenas uma história; é um reflexo das falhas, arrependimentos e frustrações que ambos carregam. A partir do momento em que Susan começa a ler o livro, o filme se desenrola em duas frentes: a realidade da vida de Susan e a ficção brutal do texto de Edward. Nesta segunda camada da narrativa, vemos Tony Hastings, também vivido por Gyllenhaal, em uma viagem pelo Texas com sua esposa e filha, que rapidamente se transforma em um pesadelo de violência e desespero.

Ford habilmente utiliza essa dualidade para explorar temas como o arrependimento, a vingança e a fragilidade das relações humanas. As cenas no Texas, repletas de tensão e terror psicológico, não são meramente uma subtrama; elas espelham e intensificam as emoções que Susan tenta reprimir. A intersecção entre essas duas narrativas levanta questões sobre o impacto da arte na vida real e como nossas experiências pessoais influenciam a maneira como interpretamos uma obra.

Mais do que um thriller, “Animais Noturnos” é uma reflexão sobre a estética, o significado da arte e sua função (ou falta dela) na vida humana. Ford desafia o espectador a questionar suas próprias percepções e a considerar a possibilidade de que a arte, em sua forma mais pura, não precisa de uma justificativa externa; ela existe por si só, como uma manifestação da complexidade e beleza da condição humana.

Através de “Animais Noturnos”, na Netflix, Tom Ford prova que sua visão não se limita a criar belas imagens. Ele cria mundos inteiros, onde cada detalhe serve a um propósito maior, e onde o espectador é convidado a explorar não apenas o que vê na tela, mas também as emoções e pensamentos que surgem a partir dessa experiência visual e narrativa. Este filme é, sem dúvida, uma das obras mais intrigantes e desafiadoras do cinema contemporâneo.


Filme: Animais Noturnos
Direção: Tom Ford
Ano: 2016
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 8/10