Indicado a 218 prêmios, filme vencedor do Oscar com Ethan Hawke está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Indicado a 218 prêmios, filme vencedor do Oscar com Ethan Hawke está na Netflix

Richard Linklater, em “Boyhood: Da Infância à Juventude”, desafia o público ao realizar uma façanha cinematográfica que encapsula a transformação de um menino de seis anos em um jovem adulto em menos de três horas de filme. O projeto, que consumiu doze anos para ser concluído, foi feito com um orçamento relativamente modesto de US$ 4 milhões, que se multiplicou por quinze, mas exigiu um comprometimento singular de toda a equipe. Linklater, conhecido por explorar o impacto do tempo em suas obras, como na trilogia “Antes do Amanhecer”, mostra mais uma vez seu interesse em captar as nuances da passagem dos anos. Este filme, no entanto, vai além, desafiando o tempo de uma forma inédita e com uma intenção clara de criar algo verdadeiramente grandioso.

A escolha de Ellar Coltrane como protagonista foi crucial para o êxito de “Boyhood”. Coltrane, desde cedo, compreendeu a magnitude do projeto e o impacto que teria em sua vida pessoal e profissional. Ao aceitar o desafio de filmar durante mais de um mês por ano até que Linklater julgasse ter material suficiente, ele assumiu um compromisso que influenciou profundamente sua juventude. Esse compromisso significou sacrificar tempo com amigos, alterar sua rotina escolar e se adaptar constantemente às exigências das filmagens. À medida que Coltrane amadurecia, ele também começou a reconhecer a importância dessa experiência única e o valor que ela traria à sua vida e carreira.

Embora o formato inovador de “Boyhood” seja indiscutivelmente notável, a narrativa em si não apresenta novidades revolucionárias. A exploração das complexas relações familiares, incluindo casamentos desfeitos, distanciamento entre pais e filhos, e as dores do crescimento, já foi abordada por outros cineastas e autores com igual ou maior profundidade. Obras como “Fanny e Alexander” e “Cenas de um Casamento” de Ingmar Bergman, bem como clássicos literários como “Anna Kariênina” de Liev Tolstói, examinam esses temas com uma intensidade que transcende o tempo. O mérito de Linklater, no entanto, reside em sua capacidade de tornar o cotidiano extraordinário, oferecendo uma perspectiva estética que transforma momentos banais em reflexões profundas sobre a vida e o tempo.

A transição de Mason, interpretado por Coltrane, ao longo dos anos é apresentada de forma sutil, sem que o público seja explicitamente informado das mudanças temporais. Esse aspecto do roteiro, juntamente com as performances autênticas de Ethan Hawke e Patricia Arquette, adiciona uma camada de realismo que ressoa com a audiência. A atuação de Arquette, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, exemplifica essa vulnerabilidade humana, enquanto Coltrane, no papel de Mason, oferece uma visão genuína da transição da infância para a vida adulta, refletindo as complexidades e incertezas que acompanham esse processo.

“Boyhood”, na Netflix, não se destaca apenas por sua duração extensa, mas pelo modo como Linklater incorpora referências culturais e uma trilha sonora que captura a essência das diferentes épocas retratadas. A experiência de assistir ao filme é comparável a uma viagem no tempo, onde cada detalhe enriquece a narrativa e proporciona ao espectador uma reflexão sobre o que realmente merece ser lembrado ao longo dos anos.


Filme: Boyhood: Da Infância à Juventude
Direção: Richard Linklater
Ano: 2014
Gêneros: Drama/Coming-of-age
Nota: 10