Thriller de guerra de tirar o fôlego, com Brad Pitt, disputou 23 prêmios e está na Netflix Divulgação / Sony Pictures

Thriller de guerra de tirar o fôlego, com Brad Pitt, disputou 23 prêmios e está na Netflix

Quando uma nação assume uma postura firmemente oposta a outra, cujas lideranças mantêm convicções controversas, o mundo inteiro se aproxima perigosamente de um precipício de incertezas. As já frágeis barreiras que separam a civilidade da barbárie tornam-se ainda mais tênues. Decidir pela guerra contra outro país nunca é um ato isento de dilemas éticos ou questionamentos humanitários profundos.

No entanto, em determinadas situações, essa pode ser a única via para evitar o ocaso histórico e a degradação moral de uma nação, algo que Winston Churchill, durante a Segunda Guerra Mundial, considerava um fardo inevitável para aqueles que não se engajam nas causas que realmente importam. Por mais perturbador que pareça, é inegável que a guerra exerce uma atração poderosa. Ao longo dos séculos, foi através dos conflitos que surgiram figuras heroicas, homens e mulheres excepcionais que se destacaram por sua coragem inabalável em meio a batalhas intermináveis.

David Ayer, em sua trajetória como cineasta, consolidou-se como um narrador das tensões humanas atemporais, imunes ao avanço inexorável do tempo e às conquistas da ciência moderna. Em “Corações de Ferro” (2014), ele parte de uma narrativa fictícia sobre o confronto entre as forças americanas e o nazismo, uma das maiores atrocidades já engendradas pela humanidade, para oferecer uma visão profunda e visceral dos horrores da Segunda Guerra Mundial.

O filme se distingue por seu enfoque detalhista, sustentado por um elenco afinado que compreende a complexidade da história que estão contando. No centro desse elenco, um ator se destaca, reafirmando sua relevância em um subgênero cinematográfico que continua a explorar os traumas daqueles seis anos de devastação global.

Brad Pitt, cujo desempenho marcante em “Bastardos Inglórios” (2009) foi decisivo para sua escolha por Ayer, mais uma vez assume o papel de protagonista, ecoando a intensidade de seu personagem anterior, mas com nuances distintas. “Corações de Ferro”, na Netflix, poderia ser visto como uma homenagem a Aldo Raine, personagem criado por Quentin Tarantino, não fosse a intenção de Ayer de criar algo novo e significativo.

Pitt, ainda afiado como sempre, desempenha o papel de Don Collier, também conhecido como Wardaddy. Este veterano, que carrega consigo um apelido que reflete sua função tanto de líder quanto de protetor, mantém uma postura sempre vigilante, cumprindo as ordens do comando superior enquanto cuida de seus subordinados com a mesma diligência. A narrativa se desenrola após o Dia D, em um momento em que a guerra já se encaminhava para o fim, mas ainda havia territórios a serem conquistados e inimigos a serem derrotados. Wardaddy e sua equipe, que lutam juntos desde a campanha no norte da África, mantêm-se firmes, apesar das dificuldades e das tensões internas.

Cada membro da equipe tem um pseudônimo que traduz sua personalidade. Boyd Swan, chamado de Bíblia, é o artilheiro religioso vivido por Shia LaBeouf; Trini García, o Gordo, é o motorista do tanque Fury, que serve de refúgio para a unidade; e Grady Travis, apelidado de Coon-Ass, é o mecânico responsável pelos constantes reparos no blindado. A este grupo se junta Norman Ellison, um datilógrafo lançado ao caos da guerra de forma quase acidental, interpretado por Logan Lerman com uma precisão que captura perfeitamente a hesitação de um homem deslocado em um cenário de brutalidade.

Momentos de relativa calma, como o encontro com as irmãs Emma e Irma, interpretadas por Alicia von Rittberg e Anamaria Marinca, oferecem um contraste poético com a violência incessante da guerra, preparando o terreno para o desfecho do filme, onde o ciclo de liderança se completa, mesmo que de maneira previsível. Com a morte de Wardaddy, Norman Ellison assume seu lugar, marcando a continuidade de uma tradição forjada no calor do combate.


Filme: Corações de Ferro
Direção: David Ayer
Ano: 2014
Gêneros: Guerra/Drama/Ação
Nota: 9/10