Última oportunidade para assistir na Netflix: thriller de ação com Justin Timberlake e Cillian Murphy baseado em teoria de Foucault Divulgação / 20th Century Fox

Última oportunidade para assistir na Netflix: thriller de ação com Justin Timberlake e Cillian Murphy baseado em teoria de Foucault

O tempo, com sua marcha implacável, avança sem se deter, ignorando nossos desejos de pausa ou retorno. Essa natureza inabalável do tempo o torna um bem de valor inestimável, especialmente quando percebemos que uma parte significativa da vida já se foi, sem possibilidade de recuperação. Embora os dias possam parecer intermináveis, os anos passam de forma vertiginosa, indiferentes a quem busca aproveitá-los ou a quem, inadvertidamente, os desperdiça.

Em “O Preço do Amanhã”, Andrew Niccol retoma a desgastada ideia do tempo como moeda de troca, usando-a para tecer uma narrativa repleta de clichês e elementos absurdos. A trama se fundamenta na ideia de que tudo o que se produz é mensurado em termos de tempo, um conceito que ganhou relevância científica há quase dois séculos, quando Karl Marx (1818-1883) dedicou boa parte de sua vida a estudar a dinâmica das fábricas, primeiro em sua Alemanha natal e, posteriormente, na Inglaterra, para onde foi exilado devido ao conteúdo subversivo de seus escritos.

Um dos conceitos centrais de Marx, a mais-valia, define o tempo necessário para que uma mercadoria seja produzida, tempo este que o capitalista utiliza para calcular seus lucros, base do sistema capitalista. O tempo que o trabalhador investe na produção de bens — sejam automóveis, cremes dentais, arranha-céus ou filmes — nunca se reverte em ganho pessoal, mas sim em lucro para seu empregador.

A ficção científica, por sua vez, tem se especializado em explorar enredos que giram em torno da tecnologia, inicialmente concebida para servir à humanidade, mas que, em algum ponto, se volta contra seus criadores de forma quase fatalista. “Ex_Machina: Instinto Artificial” (2014), dirigido por Alex Garland, é frequentemente considerado um dos melhores filmes contemporâneos a abordar essa questão.

Garland constrói uma narrativa envolvente a partir de seu próprio roteiro, e o filme é amplamente reconhecido por sua análise profunda sobre as implicações da inteligência artificial. Ava, a personagem interpretada por Alicia Vikander, é um dispositivo de IA que, em um momento crucial, prende um homo sapiens numa caixa de vidro e concreto que ele acreditava ser o próprio paraíso. No entanto, para não me desviar do tema, volto a “O Preço do Amanhã”.

Will Salas, interpretado por Justin Timberlake, encontra-se em um futuro onde o tempo literalmente equivale a dinheiro. As pessoas são programadas para envelhecer até os 25 anos e, a partir daí, têm apenas mais um ano de vida, salvo se conseguirem, de alguma forma, obter mais tempo. Envolvido injustamente na morte de Henry Hamilton (Matt Bomer), um centenário que, embora possuísse uma fortuna incalculável, estava desiludido com a vida, Will conhece Sylvia (Amanda Seyfried), filha de Philippe Weis (Vincent Kartheiser), o homem mais rico do planeta. Juntos, eles encontram um propósito para continuar vivendo, apesar da perseguição implacável do vilão Raymond Leon (Cillian Murphy), que tem seus próprios interesses em manter o status quo.

Durante a exibição do filme, não pude evitar rir — embora essa reação tenha perdido força com o tempo — diante da ideia de valorizar produtos e serviços em unidades de tempo.

Uma estadia em um hotel, por exemplo, custa um mês, o que me fez pensar automaticamente: “Um mês de trabalho, claro. Mas de quem? Do varredor de rua ou do banqueiro?” Outras questões também me vieram à mente: “Se apenas os ricos sobrevivem, quem realiza os trabalhos manuais? E se alguém desejasse investir anos de vida em um curso para abrir um negócio, mas fracassasse? Cairia morto de repente?” O filme apresenta falhas concretas, como a utilização de fitas VHS para armazenar dados em um futuro que, presumivelmente, está a anos-luz do nosso século 21, onde quase um bilhão de pessoas morrem, não por falta de tempo, mas de fome.

Apesar dessas incongruências, “O Preço do Amanhã”, na Netflix, é sustentado pelas performances sólidas de Timberlake e Seyfried, cuja química é inegável e carrega o filme de maneira convincente. No entanto, se você, como eu, encontrar motivos para rir, saiba que essa graça não se sustenta por muito tempo.


Filme: O Preço do Amanhã
Direção: Andrew Niccol
Ano: 2011
Gêneros: Ficção científica/Ação
Nota: 7/10