Aclamado pela crítica e odiado pelo público: filme de criador da série ‘Euphoria’ foi pior bilheteria de 2018 e está na Netflix Divulgação / BRON Studios

Aclamado pela crítica e odiado pelo público: filme de criador da série ‘Euphoria’ foi pior bilheteria de 2018 e está na Netflix

Não é por acaso que Sam Levinson, criador de séries polêmicas como “Euphoria” e “The Idol”, escolheu o nome Salem para a cidade fictícia onde se passa a história de seu thriller social “País da Violência”. Com uma temática semelhante à de suas séries, o diretor abusa de cenas eróticas, violentas e vocabulário ofensivo, características marcantes de seu trabalho.

No século 17, uma vila colonial de Massachusetts executou 20 pessoas, a maioria mulheres, sob a alegação de que estavam sob influência de forças demoníacas. As acusações, que geralmente tinham mais a ver com rivalidades pessoais e tensões familiares do que com provas concretas, eram baseadas em testemunhos pouco confiáveis. Os acusadores conseguiram convencer a comunidade por meio do puritanismo e da religiosidade predominantes.

Em “País da Violência”, Levinson cria um clima crescente de histeria coletiva similar ao que ocorreu no século 17, quando a perseguição às mulheres foi motivada por uma moralidade rígida e controle social. O filme e a história compartilham a ideia de como rumores podem criar uma atmosfera de acusações e paranoia, levando as pessoas a se voltarem umas contra as outras e a provocarem uma onda de violência descontrolada.

No entanto, o enredo de Levinson se passa nos dias atuais. Um hacker anônimo começa a vazar informações comprometedoras de pessoas comuns nas redes sociais, gerando um frenesi generalizado. Em meio a esse turbilhão de caos e paranoia, quatro adolescentes do ensino médio — Lily (Odessa Young), Em (Abra), Sarah (Suki Waterhouse) e Bex (Hari Nef) — lutam para sobreviver em um ambiente de violência crescente.

Assim como o filme “A Onda” de Dennis Gansel, lançado em 2008, recria a dinâmica do nazismo e demonstra como grupos perseguidores podem surgir em qualquer época, Levinson faz o mesmo em “País da Violência”. Ele mostra que eventos como os da Inquisição em Salem ainda são possíveis na era atual, com as redes sociais desempenhando um papel crucial ao fortalecer a cultura da vigilância e a disseminação de boatos.

Um dos pontos fortes dos filmes de Levinson é a cinematografia, aqui assinada por Marcell Rév. As cores saturadas e os tons vibrantes de vermelho, azul e neon — marcas registradas de Levinson — criam um visual estilizado e impactante, além de funcionar como uma metáfora visual para a violência e a confusão mental dos personagens.

A estética do filme é ainda caracterizada por movimentos rápidos da câmera e uma edição que dá a impressão de aceleração, intensificando a urgência, a tensão e o caos da trama. Planos contínuos proporcionam maior imersão ao espectador, fazendo com que se sintam em perigo junto com os personagens. Divisões de tela e espelhamentos destacam a dualidade entre a vida pública e a vida íntima, além de amplificar a sensação de uma sociedade fragmentada.

“País da Violência”, na Netflix, teve um custo operacional de 7 milhões de dólares, mas arrecadou apenas 2,5 milhões nas bilheteiras, não alcançando nem metade do orçamento. Apesar disso, o filme recebeu críticas positivas. Isso indica que o filme tenha tido pouco apelo popular e as cenas explícitas podem ter afastado o público. No entanto, Levinson manteve-se fiel ao seu estilo característico, o que é sempre revigorante no cinema.


Filme: País da Violência
Direção: Sam Levinson
Ano: 2018
Gênero: Drama/Comédia/Horror
Nota: 8