Considerado o melhor filme de Viola Davis, filme de ação e aventura, vencedor de 28 prêmios, acaba de estrear no Prime Video Divulgação / Sony Pictures

Considerado o melhor filme de Viola Davis, filme de ação e aventura, vencedor de 28 prêmios, acaba de estrear no Prime Video

Filmes com mulheres como protagonistas são filmes de (ou para) mulheres? Nada mais simplório, preconceituoso, obsoleto e falso. Filmes com atrizes no papel principal são, quase sempre, envolventes, surpreendentes, carismáticos, e ainda sutis, enérgicos, perspicazes, inovadores. As mulheres sempre foram as enfants terribles do cinema, defendendo personagens que, a princípio, parecem tolos, pueris, previsíveis, mas que, pouco a pouco, botam as garras pintadas de fora, mostram muito bem a que vieram e, não raro, levam uma história inteira nas costas — em muitos casos, para não dizer na maioria deles, dirigidas por homens, que lhes deram essa oportunidade, justiça se lhes faça — e, de quebra, um Oscar. Mulheres seriam de fato avessas umas às outras? E aquela tal sororidade? Pois “A Mulher Rei” é autoafirmação identitária na veia, sob dois aspectos essenciais. Mais uma vez, Gina Prince-Bythewood  empreende um grande esforço quanto a manter sua tradição de falar de tipos femininos que não se deixam abater frente a circunstâncias as mais desfavoráveis, neste caso, Nanisca, a generala que lidera um exército de guerreiras dispostas a derramar o próprio sangue na defesa de sua terra.

O texto de Maria Bello e Dana Stevens vira um conto de fôlego inspirado em evidências históricas sobre as mavórcias Agojie do Daomé, reino africano fundado por volta de 1600 e que resistiu até 1904, quando o último rei, Beanzim (1844-1906), sofreu a humilhante derrota que levou à anexação pelos franceses, sob o comando do presidente Jean Casimir-Perier (1847-1907). Prince-Bythewood escolhe a dedo cenários que valorizem a natureza belicosa das Agojie, mais e mais irmanadas na proteção daquele pedaço de mundo no Planalto de Abomei, uma faixa de terra na porção ocidental do continente. O filme rompe com Nanisca investindo contra um pelotão de homens que repousam ao redor de uma fogueira. O que se dá na sequência é uma pequena mostra da carnificina que garantiu a preservação do território do Daomé por quatro séculos, com a ocorrência também de choques entre tribos. A generala sai vitoriosa; no entanto, a perda de algumas de suas subalternas mais aguerridas a obriga a treinar novas recrutas. Esse é o gancho de que a diretora se vale para expandir a narrativa para o romance. Nawi, uma garota rebelde entregue pelo pai como um presente ao rei Ghezo de John Boyega, liberta-se do jugo do déspota e, claro, vai parar nas fileiras de Nanisca, onde se reconhece como um indivíduo com vontades, direitos, sonhos e apetites, esperando pelo amor de Malik, outro espírito jovem em busca de um porto seguro, com Jordan Bolger à altura do que Thuoso Mbedu vinha apresentando.

Decerto o que mais empolga aqui é encontrar Viola Davis num papel que corresponda a seu supino talento. Depois de aventuras ingratas a exemplo de “Código de Conduta” (2009), de F. Gary Gray, seguida de produções esquecíveis e quase marginais, Davis volta a brilhar como havia feito em “Um Limite Entre Nós” (2016), dirigida pelo coprotagonista Denzel Washington, e “A Voz Suprema do Blues” (2020), de George C. Wolfe, os dois, junto com “A Mulher Rei”, sobre mulheres fortes, inquebráveis, premissa que encaixa-se à perfeição à Gina Prince-Bythewood de “The Old Guard” (2020). Um trabalho a um só tempo tão assertivo em seu eixo, cheio de desdobramentos, e tão rico de sentimento em suas entrelinhas deve ser louvado como obra de arte que é.


Filme: A Mulher Rei
Direção: Gina Prince-Bythewood
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 9/10