Uma das produções mais aguardadas da Netflix em 2024, com a ganhadora do Oscar, Halle Berry, é atualmente o filme mais visto do mundo Divulgação / Netflix

Uma das produções mais aguardadas da Netflix em 2024, com a ganhadora do Oscar, Halle Berry, é atualmente o filme mais visto do mundo

A condição da mulher nas sociedades contemporâneas talvez seja uma das demonstrações mais claras das transformações profundas ocorridas nas últimas décadas. Até meados dos anos 1970, uma mulher ocupando um cargo de liderança era tão raro quanto avistar um ser de outro planeta, com características exóticas e improváveis. Atualmente, no entanto, é corriqueiro encontrar mulheres à frente de grandes corporações, desde o comércio varejista até os bancos públicos, demonstrando inteligência, determinação e profissionalismo. As mudanças estruturais que ocorreram em todo o mundo, impulsionadas por mulheres, são uma evidência poderosa do quão longe elas chegaram, partindo de uma posição historicamente desvantajosa e superando inúmeros obstáculos através de muito esforço e sacrifício pessoal.

A protagonista de “A Liga” é retratada como uma mulher que parece ter plena consciência de suas ações, mas que, ao fazer um balanço de sua carreira como agente secreta, percebe que, apesar das conquistas, ainda falta algo essencial. O diretor Julian Farino explora a complexidade emocional dessa mulher, que, após inúmeras perdas, se vê sem esperanças de confiar nas intenções alheias. Mesmo assim, ela busca recuperar o tempo perdido ao lado de um ex-namorado, alguém que não via há muito tempo. O roteiro de Joe Barton e David Guggenheim desenvolve-se em torno dessa personagem endurecida, que tenta resgatar uma parte vital de sua identidade, contando, para isso, com a ajuda de um antigo parceiro de confiança.

Existe uma verdade universal que permeia a existência de todas as criaturas: a vida é feita de sonhos, e os sonhos ignoram deliberadamente a lógica, o bom senso e qualquer outro conceito que represente os freios e contrapesos morais com os quais somos educados. Enquanto somos obrigados a seguir a ordem, a previsibilidade e a busca pela perfeição, somos perseguidos por pensamentos e imagens caóticas e irracionais, que, por mais que tentemos negar, têm lugar certo em nossas mentes. Para aqueles que se recusam a abandonar sua participação no desenvolvimento civilizatório, essa busca incessante nunca se encerra, pois o espírito humano é insaciável desde o princípio dos tempos.

A busca de Roxanne Hall por algo que ela mesma não compreende serve como um indicativo do que realmente importa na vida, uma reflexão que a maioria das pessoas evita ou subestima. Em seu conto de fadas contemporâneo, Farino combina elementos distintos: uma espiã sofisticada e independente, alertando sobre uma tempestade no mar Adriático e o desaparecimento de um agente da CIA no quarto 620 do Grand Hotel Castelletto, em Trieste, Itália; e Mike McKenna, um operário falido de Patterson, Nova Jersey, em busca de diversão, ainda que não tenha plena consciência disso. Halle Berry e Mark Wahlberg trazem à tela uma química suficiente para evocar a clássica dupla Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em “Casablanca” (1942), mas com uma inversão de papéis e uma abordagem menos sutil, porém igualmente vibrante.


Filme: A Liga
Direção: Julian Farino
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Ação/Policial
Nota: 8/10