Dirigido por Keren Nechmad, que coescreveu o enredo com Hadar Arazi e Yonatan Bal-Ilan, “Kissufim”, na Netflix, narra a história de um grupo de jovens que se voluntariam como soldados em um kibutz próximo a Gaza. A trama se passa em 1977, e um aviso inicial informa aos espectadores que o longa-metragem foi filmado antes dos ataques do Hamas aos israelenses em Gaza no dia 7 de outubro de 2023, que resultaram em mais de 1.200 mortes. Embora o filme inicialmente não tenha qualquer relação com o ocorrido, agora parece prever esses eventos.
Com uma atmosfera de filme independente, a história gira em torno de Eli (Swell Ariel Or) e seu grupo de amigos, composto por Yoav (Yehonatan Vilozny), Ron (Ofer Greenberg), Udi (Adam Gabay), Michaela (Mili Eshet), Anka (Paula Kroh), Shoshan (Erez Oved), Ila (Lir Katz) e Eldar (Tamir Ginsburg). Apesar das tensões políticas do país, o longa-metragem explora um período em que israelenses e palestinos dividiam os espaços em Gaza e, apesar da animosidade, coexistiam.
Naquele momento, Gaza estava sob ocupação israelense, que estabelecia as normas civis e de segurança na área. Palestinos que viviam e frequentavam a região precisavam seguir essas regras. Nesse contexto, a convivência já era marcada por tensão, e a vida diária estava cercada de violência e hostilidade.
Os jovens do kibutz têm plena consciência da situação. Não estão alheios aos acontecimentos. Nechmad mostra como, apesar disso, eles tentam levar suas vidas normalmente, buscando momentos de diversão, abstração e paquera. Afinal, eram jovens como qualquer outro.
Embora o filme revele, através de algumas falas, que esses jovens foram diretamente afetados pela guerra, os eventos pessoais são mencionados de forma superficial, evidenciando a vulnerabilidade da população em Israel, assim como na Palestina, diante da brutalidade do conflito.
O foco está em como eles tentam seguir com suas vidas. O filme é marcado por romances, amizades e rivalidades. Eli, por exemplo, é a musa de Yoav e Ron, que competem por sua atenção, apesar de serem amigos. Eli, ainda virgem, sabe o poder de persuasão que tem sobre os dois rapazes, mas se sente insegura sobre se envolver com qualquer um deles.
Há também uma disputa por Michaela, que já se envolveu com Udi, mas não pretende assumir um relacionamento com ele e também tem encontros ocasionais com Eldar. Udi, por sua vez, está apaixonado por Michaela e não aceita que ela se relacione com outras pessoas, apesar de não terem um compromisso formal. Uma cena dramática e impactante ilustra essa situação, refletindo como as mulheres eram (e continuam sendo) vistas como propriedades masculinas, desprovidas de livre arbítrio.
A amizade de Eli com Anka, uma jovem alemã que está passando uma temporada no kibutz, também é destacada. Anka é permitida a ir ao kibutz pela mãe rígida, mas não pretende voltar para a Alemanha, como uma forma de rebeldia contra a sua mãe.
Além dos momentos de treinamento, o grupo compartilha experiências divertidas, emocionantes e memoráveis. Embora o ritmo da história seja um tanto lento e a leveza inicial possa sugerir um filme sobre amadurecimento, há também uma dose de suspense. Este suspense atinge seu clímax, refletindo a dificuldade de manter o otimismo diante da constante tensão e violência que cercam Gaza.
Filme: Kissufim
Direção: Keren Nechmad
Ano: 2003
Gênero: Drama
Nota: 9