Na Netflix: sequência de franquia com Tom Cruise, filme levou 100 milhões de pessoas aos cinemas e arrecadou 3,5 bilhões de reais Divulgação / Paramount Pictures

Na Netflix: sequência de franquia com Tom Cruise, filme levou 100 milhões de pessoas aos cinemas e arrecadou 3,5 bilhões de reais

Encerrar ciclos, sejam eles produtivos ou não, celebrar avanços na carreira, e construir uma base familiar sólida que ofereça suporte em momentos difíceis são aspectos essenciais que dão significado à vida. Amigos leais, aqueles que verdadeiramente compreendem e se importam, são igualmente importantes, pois eles não descansam até que os problemas daqueles que consideram como irmãos, às vezes até mais próximos, sejam resolvidos.

Este tipo de vínculo é um dos maiores tesouros da vida, ainda que algumas pessoas possam não valorizar isso, seja por não possuírem tais relacionamentos, seja por acreditarem que podem enfrentar sozinhos desafios complexos. Há também uma classe singular e controversa de indivíduos que percorrem a vida com uma abordagem incomum, quase sem cerimônia, como se fossem semideuses, protegendo a humanidade de destinos catastróficos. Esses indivíduos, apesar de muitas vezes causar destruição ao seu redor, conseguem, em momentos específicos e cuidadosamente planejados, protagonizar lampejos de razão que garantem a continuidade da espécie humana no planeta.

A percepção do tempo é algo que varia enormemente entre as pessoas. Para alguns, o avanço dos anos é visto como um desafio. A vida é implacável e não perdoa, especialmente aqueles que procrastinam, adiando projetos que consideram urgentes, mas que acabam estagnados em uma espécie de limbo entre o existir e o fim. Esse adiamento contínuo cria uma falsa sensação de que esses planos estão esperando pacientemente em outra dimensão, até que a pessoa seja finalmente iluminada pela sensatez e decida realizá-los. No entanto, a coragem de dar vida a esses sonhos é frequentemente acompanhada por um medo proporcional à importância do objetivo; quanto mais um desejo mexe com nossas expectativas, provocando alívio ou angústia, mais somos tomados por sentimentos primitivos de autopreservação. Isso nos torna propensos a desistir, iniciando todo o ciclo novamente e revivendo a inércia que imobiliza o espírito, resultando em um estado de prudência estéril e progressivamente avassalador.

“Missão: Impossível: Protocolo Fantasma” (2011) na franquia é um filme particularmente revelador. Brad Bird consegue fazer do longa uma espécie de resumo da trajetória de Ethan Hunt, o protagonista que encarna o papel de anti-herói da saga. O filme também prepara o terreno para os desafios futuros da vida tumultuada do espião mais popular do cinema, ultrapassando até mesmo a figura icônica de James Bond. É neste filme que as zonas cinzentas do personagem começam a se destacar, com Tom Cruise oferecendo uma interpretação que explora nuances psicológicas mais profundas do que as vistas em filmes anteriores.

Cruise, aos 49 anos na época, domina as exigências físicas do papel com uma habilidade que poucos atores da sua idade ousariam sequer imaginar, sem comprometer a interpretação. Sua presença na tela, muito além do estigma de galã talentoso e versátil, é marcada por uma capacidade de evocar emoções intensas no público, ao mesmo tempo em que preserva sua própria sensibilidade, que se reflete nos personagens que interpreta.

O enredo de “Protocolo Fantasma” é direto e sem adornos desnecessários. Ao contrário das produções dirigidas por Christopher McQuarrie, que trouxe um toque estético mais elaborado para a franquia em filmes como “Nação Secreta” (2015) e “Efeito Fallout” (2018), este filme opta por uma abordagem mais simples. A trama gira em torno de Ethan Hunt, que precisa escapar de uma prisão russa onde estava detido por tentar impedir um ataque nuclear através de um satélite. O roteiro, escrito por André Nemec e Josh Appelbaum, foca no plano desenvolvido por Benji, interpretado pelo sempre divertido Simon Pegg, para neutralizar as ameaças dos inimigos.

Ele conta com a ajuda de William Brandt, um agente da CIA vivido por Jeremy Renner, que se destaca especialmente na virada do segundo para o terceiro ato, em uma sequência tensa dentro de um reator pronto para ser ativado por Hendricks, o antagonista interpretado por Michael Nyqvist. Juntos, eles têm a missão de deter os arroubos totalitários dos vilões, em uma trama que talvez tenha mais em comum com a realidade do que gostaríamos de admitir.

Em “Protocolo Fantasma”, na Netflix, já se pode perceber os dilemas que Ethan Hunt, e por extensão Tom Cruise, enfrenta em relação ao encerramento de certas fases da vida. Cruise ainda tem muitas aventuras para viver, seja na frente das câmeras ou por trás delas, e há quem especule que ele poderia seguir os passos de Clint Eastwood no gênero dos filmes de espionagem. Essa, sim, é uma missão que parece bastante possível.


Filme: Missão Impossível — Protocolo Fantasma
Direção: Brad Bird
Ano: 2011
Gêneros: Thriller/Aventura/Ação
Nota: 8/10