O filme insano da Netflix indicado por Quentin Tarantino Divulgação / Netflix

O filme insano da Netflix indicado por Quentin Tarantino

Sergio Leone (1929-1989) foi um cineasta de visão única, reconhecido por seu talento em reformular a narrativa cinematográfica de maneira inovadora. Em seus filmes, Leone imprimia um desejo profundo por justiça e redenção, características que, embora muitas vezes possam parecer brutais, serviam para apaziguar personagens com ânimos exacerbados.

“Sangue e Ouro” é uma obra que claramente resgata a essência do western spaghetti popularizado por Leone, sobretudo na forma como o diretor Peter Thorwarth dá vida à angústia dos protagonistas. Esses personagens, sombrios e marginalizados, são utilizados por Thorwarth para expressar opiniões sobre temas que, em outras mãos, poderiam ser evitados, mas que aqui conferem ao enredo uma intensidade única, desafiando o público a refletir sobre suas próprias percepções.

O filme se passa no final da primavera de 1945, um período em que a Alemanha já começava a sentir o peso dos seis anos de uma guerra devastadora. No entanto, Thorwarth não se preocupa em recriar com exatidão os detalhes históricos desse período; sua atenção está voltada para as complexidades internas de seu protagonista. Heinrich, um soldado que investiu seis anos de sua vida em uma causa que sempre lhe pareceu insustentável, decide desertar, mesmo sabendo que o destino dos desertores é, invariavelmente, sombrio.

Robert Maaser interpreta Heinrich, um homem cuja fé na guerra foi corroída pelo cansaço e pelas privações, e que agora, em uma tentativa desesperada de se libertar, vê-se em uma situação que ameaça sua vida de maneira brutal.

A narrativa segue Heinrich em uma luta física e espiritual contra o peso literal de seu corpo enquanto tenta escapar de uma morte trágica e patética. A tensão aumenta à medida que o personagem resiste à força da gravidade, e o público começa a esperar por uma reviravolta que possa salvar sua vida.

O roteiro de Stefan Barth insere elementos místicos e metáforas religiosas que acentuam o sofrimento de Heinrich, um homem perseguido por seus atos passados e que agora se vê diante da possibilidade de redenção, mas ao custo de seu próprio sangue. Barth aproveita a sequência para explorar o potencial espiritual do momento, apresentando uma figura que Heinrich interpreta como sobrenatural, mas que, na realidade, ainda pertence a este mundo, embora ele próprio já não se sinta mais parte dele.

Conforme o filme avança para seu terceiro ato, Thorwarth abandona a abordagem mística inicial e se concentra mais nas características de um filme de guerra, sugerindo até um romance incipiente entre Heinrich e Elsa, interpretada por Marie Hacke. Se o romance vai além dos limites da projeção, é algo que o público precisa decidir por si mesmo. O filme é marcado por cenas de violência intensa, mas, no fim, o ouro que dá título à obra é algo que poucos alcançam. E talvez, no final das contas, nem seja tão importante assim.


Filme: Sangue e Ouro 
Direção: Peter Thorwarth
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Ação
Nota: 8/10