Indicado a 165 prêmios e ganhador do Oscar, filme arrecadou mais de 1 bilhão nos cinemas mundiais e está na Netflix Jack English / Weinstein Company

Indicado a 165 prêmios e ganhador do Oscar, filme arrecadou mais de 1 bilhão nos cinemas mundiais e está na Netflix

O curso de nossas vidas é moldado tanto pelos atributos positivos quanto pelas falhas que acumulamos ao longo do tempo. Chega um ponto em que essa bagagem pessoal se torna crucial na maneira como enfrentamos os desafios e angústias que testam nosso espírito. O mundo, que se revela cada vez mais como um ambiente inóspito, nos força a medir cuidadosamente cada palavra e a considerar cada gesto com cautela, sob o risco de enfrentar graves consequências.

Vivemos sob a constante ameaça de indivíduos que, sob uma fachada de cordialidade, estão prontos para atacar ao menor deslize, destruindo não apenas nossa integridade física, mas também nossa dignidade. Nesse cenário, muitas vezes nos sentimos mais como engrenagens em uma máquina do que como seres humanos. Cada pessoa tem suas próprias perspectivas e preferências, e os sentimentos que nos definem como indivíduos podem se perder na vastidão do universo humano. Quando tentamos nos adaptar a padrões que não nos servem, acabamos nos distanciando ainda mais de nossa condição complexa e única de indivíduos.

A história é repleta de figuras que, apesar de sua importância, são negligenciadas ou ignoradas pelas gerações seguintes por uma série de razões lamentáveis. Embora as sociedades modernas tenham avançado significativamente na proteção do direito à opinião e à livre expressão, as injustiças sofridas por muitos no passado não desaparecem simplesmente com a evolução das leis ou da consciência coletiva.

Alan Mathison Turing, matemático londrino nascido em 1912 e falecido em 1954, é um exemplo notável de alguém que sofreu as mais degradantes injustiças em um regime que se autodenominava democrático, mas que na prática invadia a privacidade de seus cidadãos, punindo-os por não se conformarem aos padrões sociais da época. Apesar de suas contribuições monumentais para a ciência da computação moderna, Turing foi vítima de um linchamento moral por razões que, felizmente, hoje são vistas como absurdas.

Sua vida e legado são explorados em profundidade no filme “O Jogo da Imitação” (2014), na Netflix, dirigido por Morten Tyldum. O filme utiliza flashbacks para apresentar uma visão detalhada da vida de Turing, destacando tanto sua contribuição científica essencial quanto o tratamento cruel que recebeu por causa de sua orientação sexual. A narrativa combina crítica social com uma contextualização cuidadosa das realizações científicas de Turing, que foram fundamentais para o desenvolvimento dos computadores pessoais como os conhecemos hoje.

O roteiro escrito por Graham Moore examina minuciosamente as complexas questões que envolvem a vida de Turing. Benedict Cumberbatch, no papel de Turing, oferece uma performance que capta a intensidade emocional e a natureza melancólica do personagem, elementos que são realçados pela fotografia de Óscar Faura e pela trilha sonora de Alexandre Desplat. O filme de Tyldum explora a personalidade meticulosa e obsessiva de Turing, levando o público a entender que essa característica foi essencial para suas conquistas históricas.

A relação entre Turing e Joan Clarke, interpretada por Keira Knightley, é retratada de forma tocante, mostrando como suas vidas poderiam ter sido ainda mais entrelaçadas se as circunstâncias tivessem sido diferentes. O legado de Turing, especialmente sua invenção de uma máquina capaz de decifrar mensagens codificadas, é destacado como um feito que encurtou a Segunda Guerra Mundial em dois anos, salvando milhões de vidas. No fundo, Turing era um homem solitário que ansiava por amor e aceitação, e sua história é um lembrete poderoso das tragédias que podem resultar da intolerância e do preconceito.


Filme: O Jogo da Imitação
Direção: Morten Tyldum
Ano: 2014
Gênero: Drama/Biografia/Guerra/Thriller
Nota: 10