Com 192 indicações a prêmios, incluindo 6 Oscars, filme de Aaron Sorkin é um dos mais aclamados da Netflix Divulgação / Netflix

Com 192 indicações a prêmios, incluindo 6 Oscars, filme de Aaron Sorkin é um dos mais aclamados da Netflix

O filme “Os 7 de Chicago”, roteirizado e dirigido por Aaron Sorkin, é uma obra cinematográfica que revela o amadurecimento de Sorkin como diretor, além de destacar seu talento inigualável como roteirista. Com uma carreira marcada por trabalhos aclamados como “A Rede Social” e “Moneyball”, Sorkin fez sua estreia na direção com “A Grande Jogada” em 2017. Em “Os 7 de Chicago”, ele apresenta um avanço significativo em sua capacidade de dirigir, combinando com maestria seu estilo característico de diálogos com uma narrativa visual impactante.

A marca registrada de Sorkin sempre foi a construção de diálogos. Seus roteiros são conhecidos por conversas extensas, dinâmicas e repletas de nuances, onde ele explora as camadas mais profundas dos personagens. Seus diálogos não são reflexos de conversas cotidianas, mas isso não compromete a autenticidade das cenas. Na verdade, essa separação entre a ficção e a realidade permite que Sorkin aborde temas complexos de forma que poucas pessoas seriam capazes de expressar na vida real. Suas personagens verbalizam sentimentos intensos, reflexões profundas e pensamentos que muitas vezes ficam contidos por falta de coragem ou habilidade.

Em “Os 7 de Chicago”, Sorkin revisita o controverso julgamento de um grupo de ativistas políticos em 1969, lançando um olhar crítico sobre o sistema judiciário americano e as manobras políticas da época. O filme foi lançado durante um período de tensão política nos Estados Unidos, em 2020, quando o país estava imerso em uma eleição polarizada que resultou na derrota de Donald Trump. A obra destaca o julgamento como uma perseguição política a líderes de movimentos que defendiam ideias contrárias ao governo e à Guerra do Vietnã, retratando a luta dos acusados contra um sistema que os via como inimigos do Estado.

Entre os réus estão figuras como Tom Hayden (interpretado por Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), estudantes ativistas; Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), líderes de movimentos culturais; e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), cofundador dos Panteras Negras. Sorkin ilustra a injustiça do julgamento, destacando como alguns dos réus, como Seale, nem sequer estavam presentes nos eventos que levaram às acusações. O juiz Julius Hoffman (Frank Langella) é retratado como uma figura tendenciosa, enquanto o promotor, vivido por Joseph Gordon Levitt, enfrenta um conflito ético ao perceber a injustiça do processo que favorecia o governo Nixon.

Embora o filme exagere em alguns momentos dramáticos, conferindo aos protagonistas uma aura quase heroica, a obra se mantém envolvente, equilibrando habilmente cenas documentais com a ficção. “Os 7 de Chicago” é uma poderosa reflexão sobre a luta pelos direitos civis e os mecanismos de opressão política, destacando as manobras sujas que frequentemente permeiam os bastidores da política. A obra, disponível na Netflix, não só resgata um momento crucial da história americana, como também incita uma discussão sobre as divisões políticas que ainda persistem nos dias de hoje.


Filme: Os 7 de Chicago
Direção: Aaron Sorkin
Ano: 2020
Gênero: Biografia/ Drama/ Suspense
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.