Steven Spielberg se destaca entre os grandes diretores de Hollywood como um mestre em combinar negócios lucrativos com narrativas que fogem do convencional, muitas vezes tocando o limite do absurdo, sempre com um toque de ciência. “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros” segue a mesma linha de produções icônicas como “E.T. — O Extraterrestre” (1982) e “A.I. — Inteligência Artificial” (2001). Isso sem mencionar as aventuras inesquecíveis do arqueólogo mais famoso da ficção, narradas nos quatro filmes de “Indiana Jones”, e, esticando um pouco mais a corda, “A Guerra dos Mundos” (2005), uma adaptação da obra de H. G. Wells (1866-1946).
Este último, ao contrário de “E.T.”, explora a necessidade urgente de combater qualquer ser que não se assemelhe ao homo sapiens, seres esses que, por sua vez, aspiram nos dominar, nos escravizar, ou até mesmo nos exterminar. Em 1993, Spielberg deu início a uma franquia que se tornou sinônimo de ficção científica, e mais de duas décadas depois, em 2015, Colin Trevorrow oferece sua interpretação sobre o fascínio do público pelo destino da humanidade frente a criaturas colossais, feras coléricas, deslocadas em um mundo que não mais lhes pertence.
No “Mundo dos Dinossauros”, resta pouco das narrativas de Michael Crichton (1942-2008), mas isso não é necessariamente um problema. Filmes com tramas complexas e cheias de possibilidades, como este, permitem múltiplas abordagens narrativas, cada uma desdobrando-se em outras tantas camadas interpretativas. O roteiro, assinado por Trevorrow e uma equipe coesa de colaboradores, leva essa premissa a sério. A decisão de iniciar a trama de forma mais pausada se mostra acertada, especialmente quando comparada à enxurrada de subtramas que se desenrolam após o primeiro ato. As declarações de amor juvenil de Zach, o adolescente introspectivo interpretado por Nick Robinson, exemplificam bem os caminhos que o diretor deseja explorar com seus personagens.
Zach e seu irmão mais novo, Gray, interpretado por Ty Simpkins, chegam ao aeroporto Juan Santamaría, na Costa Rica, e de lá seguem para Nublar, a ilha dos dinossauros, sob a administração de sua tia Claire. Bryce Dallas Howard traz uma leveza ao ambiente tecnológico e selvagem do parque, o mesmo criado por Spielberg, mas atualizado com as tecnologias mais recentes. Enquanto uma grua à moda antiga percorre os habitats das diferentes espécies, a trilha sonora emblemática de Michael Giacchino evoca as memórias dos garotos que assistiram ao filme original há três décadas.
Os dois irmãos saem de casa para que os pais possam resolver suas diferenças — mais uma vez, as crianças pagam pelos erros dos adultos — e são recebidos por Claire, uma mulher casada com seu trabalho, que os acolhe sem muita cerimônia. Gray, com seu conhecimento e fascínio pelos dinossauros, parece ser uma espécie de elo perdido entre a humanidade e essas criaturas gigantescas que sua tia tanto estuda. Os dinossauros, agora comuns como carne de vaca, precisam de inovações constantes para manter o interesse do público, um caminho que inevitavelmente leva ao desastre.
Aqui, Trevorrow busca inspiração em Hitchcock, construindo o suspense que antecede o terror de criaturas pré-históricas à solta, assombrando e esmagando tudo em seu caminho. Inevitavelmente, surge um herói das trevas, papel que se encaixa perfeitamente no carisma físico de Chris Pratt como Owen, que, além de tudo, ainda consegue despertar sentimentos em seus monstrinhos — e também na severa personagem de Howard, que, em sintonia com o espírito do tempo, responde a esses sentimentos sem precisar abandonar sua carreira, e talvez, quem sabe, fique com a guarda dos sobrinhos. Mas isso, claro, é assunto para um próximo “Jurassic World”.
Filme: Jurassic World — O Mundo dos Dinossauros
Direção: Colin Trevorrow
Ano: 2015
Gêneros: Thriller/Ficção Científica/Aventura/Ação
Nota: 8/10