Um balão vermelho flutuando numa travessa de vidro na abertura de “Reunion: O Reencontro da Turma” lembra um órgão humano depois de um massacre. Essa é apenas a primeira das muitas piadas com que Chris Nelson recheia seu filme, uma comédia macabra sobre quarentões que tornam a se ver passados 23 anos da formatura do ensino médio. A turma de 2001 do Colégio Ridgeview conta agora com um policial, um cientista política com aspirações ao Capitólio, modelos, desocupados, esquizofrênicos, todos recebidos pelo multimilionário anfitrião num palacete de fazer cair o queixo, o que explica boa parte da hostilidade que termina por atrair sem querer. O roteiro simplório de Willie Block e Jake Emanuel estica a corda o quanto pode até todos nos convençamos de que há mesmo um grande mistério a perpassar a história, que corre ligeira no transcurso de hora e meia bem aproveitada.
A vida é uma sucessão de desafios, uma saga rumo ao desconhecido, uma eterna luta contra o relógio, em que ter muitos talentos significa não ter nenhum. Há quem perca um tempo precioso querendo agradar o maior número de pessoas possível, pensando que assim pode, quem sabe, agradar a si mesmo. Essa falha elementar vem sendo cometida reiteradas vezes ao longo da história, sempre por alguma razão psicologicamente complexa. Rapazes choram, sim, moças podem ser o que quiserem e o ensino médio se constitui uma fase ao longo da qual uns e outras são instados a superar os desafios tão próprios dessa época da vida, como se numa daquelas gincanas que todos achávamos divertidíssimas até duas décadas atrás.
Não há nada mais corriqueiro na vida do homem do que a própria banalidade, uma batalha perdida que insistimos em travar com os fantasmas menos óbvios que habitam nossas profundezas mais inacessíveis. Pensamos, uns mais, outros menos, mas todos, sem exceção, sobre se é possível voltarmos ao que fomos, se podemos ter outra vez os desejos que eram nossa própria essência. Perdemos horas de sono, que costumam se estender para o expediente de trabalho, elucubrando, tecendo digressões as mais insanas acerca de como teria sido nossa jornada se houvéssemos tomado essa ou aquela decisão a respeito de tal ou qual assunto.
Depois de cumprimentos formais e alfinetadas que esperaram séculos para chegar a seu destino com algum amparo na realidade, o convescote na mansão de Mathew Danbury, o ricaço metido a galã de Chace Crawford, ele aparece morto. O crime, claro, só pode ter sido cometido por um dos convidados — ainda que Block e Emanuel tentem nos fazer acreditar que um intruso se encarregou da tarefa que todos ali gostariam de executar, cada qual com seu motivo. O alívio cômico de Lil Rel Howery, na pele de Ray Hammond, negro e o que menos longe foi entre os colegas, não é o bastante para dissipar um certo constrangimento diante da falta de equilíbrio do elenco. Billy Magnussen como Evan West, o policial, está muito bem, mas a Amanda Tanner de Nina Dobrev parece estar ali apenas para destilar charme. A solução do crime passa pelos sentimentos menos óbvios de um deles, nada de que um espectador atento não tire de letra.
Filme: Reunion: O Reencontro da Turma
Direção: Chris Nelson
Ano: 2024
Gêneros: Mistério/Comédia
Nota: 7/10