Em 1997, Mike Newell quebrou as expectativas dos filmes de gângster ao lançar “Donnie Brasco”, um filme que foge dos padrões tradicionais do gênero. Baseado no livro “Minha Vida Clandestina na Máfia”, de Joseph D. Pistone e Richard Woodley, o roteiro adaptado por Paul Attanasio deu vida a uma das histórias mais intrigantes da máfia norte-americana. O próprio Pistone, que inspirou o personagem principal, afirmou que 85% do filme é fiel à realidade.
No centro da trama, Johnny Depp interpreta Donnie Brasco, um agente do FBI que se infiltra na Família Bonanno, uma das mais notórias organizações criminosas de origem italiana nos Estados Unidos. Sob a fachada de especialista em joias, Donnie se aproxima de Lefty Ruggiero, um membro veterano da máfia, interpretado por Al Pacino. Lefty, sem saber da verdadeira identidade de Donnie, o introduz ao mundo do crime, tornando-se seu mentor e aliado.
A missão de Donnie como agente infiltrado dura de 1976 a 1981, período em que ele coleta evidências cruciais para o FBI, enquanto se afunda cada vez mais no perigoso universo que investiga. A vida dupla que leva começa a desgastar sua saúde mental e compromete seu relacionamento familiar, ao ponto de ele considerar abandonar sua missão, mesmo sabendo que isso colocaria em risco a vida de Lefty.
O filme explora a complexa dinâmica de poder e lealdade dentro da máfia, onde traições e intrigas são constantes. Donnie, sempre sob ameaça de ser descoberto, vive em um estado constante de paranoia e tensão, afetando profundamente sua relação com a esposa e as filhas.
A atuação de Johnny Depp é notável por sua sobriedade, fugindo dos exageros caricaturais e entregando uma performance intensa e contida. Al Pacino, por sua vez, abandona a figura de gângster imponente para dar vida a Lefty, um personagem mais humilde e vulnerável, cujas roupas chamativas são um reflexo de sua tentativa desesperada de se afirmar dentro da organização criminosa.
Visualmente, “Donnie Brasco” se distingue dos tradicionais filmes de máfia, como “O Poderoso Chefão”, que estabeleceu um padrão de iluminação sombria e narrativa densa. A escolha de Newell e do diretor de fotografia, Peter Sova, por uma paleta de cores mais vibrante e uma iluminação clara, reflete a intenção de destacar as emoções dos personagens e manter uma atmosfera energética. No entanto, Sova também utiliza jogos de luz e sombra para intensificar a tensão e o suspense em momentos-chave.
As cores predominantes no filme, como marrons, cinzas e pretos, sublinham a ambiguidade moral dos personagens, criando um ambiente onde ninguém é completamente bom ou mau. Esses elementos contribuem para fazer de “Donnie Brasco” uma obra distinta e memorável dentro do gênero de filmes de gângster.
Além de Depp e Pacino, o elenco de “Donnie Brasco”, que está na Netflix, inclui performances notáveis de Bruno Kirby, Michael Madsen, Anne Heche, Joe Pesci, Robert Miano, Gretchen Mol, Tim Blake Nelson e Paul Giamatti. O filme foi aclamado pela crítica e recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, consolidando-se como um marco na carreira de Newell e no gênero de filmes de crime.
Filme: Donnie Brasco
Direção: Mike Newell
Ano: 1997
Gênero: Ação/Policial/Crime/Biografia
Nota: 9/10