Suspense de época, com Margot Robbie e Finn Cole, é o filme mais subestimado do Prime Video Divulgação / GEM Entertainment

Suspense de época, com Margot Robbie e Finn Cole, é o filme mais subestimado do Prime Video

Tudo em que Margot Robbie põe a mão vira ouro. Essa é a impressão que também passa “Dreamland: Sonhos e Ilusões”, thriller situado numa cidadezinha do Texas de 1935 que resiste a tempestades de areia e às intempéries da economia durante a Grande Depressão Americana (1929-1941). Além de protagonista, Robbie é uma dos produtores do primeiro longa do jovem diretor Miles Joris-Peyrafitte, e parece mesmo querer deixar a marca de seus excelentes serviços em Hollywood desde que surgiu em “O Lobo de Wall Street” (2013), a despretensiosa e engraçada tentativa de Martin Scorsese quanto a jogar luz sobre o pântano do mercado financeiro dos Estados Unidos.

 Ironicamente, Jordan Belfort, o personagem central do pseudoconto de fadas pós-moderno de Scorsese, e Allison Wells, a assaltante de bancos vivida pela Garota Dourada de Dalby, no nordeste australiano, têm sua história definida pelo crime, pelo dom de iludir e pela urgência de ganhar dinheiro, ainda que o roteiro de Nicolaas Zwart esmere-se por sublinhar o cenário de penúria que a Senhorita Wells divide com os caipiras que atravessam-lhe o caminho, uns querendo seus afagos, outros mais interessados nos dez mil dólares que a polícia oferece por sua cabeça.

O editor Abbi Jutkowitz prefere deixar para o segundo ato a sequência que explica por que exatamente Allison está sendo perseguida por todos as forças policiais do Meio-Oeste. Enquanto isso, ficamos com a trama de Eugene Evans, um rapaz de 25 anos sem ocupação certa que mora com a mãe, Olivia, de Kerry Condon, o padrasto George, de Travis Fimmel, e Phoebe, a meia-irmã mais nova.

Poder-se-ia dizer que Phoebe é a verdadeira grande figura de “Dreamland”, uma vez que é pela voz dela que nos inteiramos do tragédia sempre iminente que ronda os Evans, e o carisma e a assombrosa maturidade profissional de Darby Camp são capazes de segurar com folga alguns lapsos narrativos longos demais causados, por paradoxal que soe, pela locução da Phoebe adulta, de Lola Kirke. O pai de Eugene o deixou quando ele era menino, e sua esperança de revê-lo sobrevive graças ao cartão-postal que enviou-lhe do México.

Essa é uma informação útil depois que o anti-herói de Finn Cole se depara com Allison ferida no celeiro. É ele quem remove o projétil com que a polícia a acertara na perna, lhe traz água, comida e ouve sua versão dos acontecimentos, até que a conversa fica perigosa. A sensível interpretação de Robbie mascara a culpa de Allison o bastante para que pensemos que ela de fato pode ser uma completa injustiçada, quando sua ambiguidade moral torna-se cada vez mais palpável.

A proposta dela, de que Eugene consiga-lhe um carro para que dirija até o país vizinho e de lá mande-lhe vinte mil dólares, o dobro do que as autoridades oferecem por sua captura — mediante, claro, um novo assalto — joga a última pá de cal sobre o romantismo de quem apostava em sua possível metamorfose, entre os quais não se inclui Eugene, por óbvio. E, então, não há mais lugar para sonho.


Filme: Dreamland: Sonhos e ilusões
Direção: Miles Joris-Peyrafitte
Ano: 2019
Gêneros: Thriller/Suspense
Nota: 8/10