Prepare-se para rir e chorar: filme adorável e encantador com Al Pacino e Annette Bening na Netflix vai iluminar sua semana Divulgação / Imagem Filmes

Prepare-se para rir e chorar: filme adorável e encantador com Al Pacino e Annette Bening na Netflix vai iluminar sua semana

Danny Collins, após mais de quatro décadas, incorporou plenamente a essência de uma estrela do rock. Em 30 de junho de 1971, quando assinou seu primeiro contrato com uma gravadora de grande sucesso comercial, ele era um jovem inseguro, talvez lutando contra uma prudência que não combinava com sua juventude.

Com o passar dos anos, adquiriu a autoconfiança que o levou ao topo das paradas por várias semanas consecutivas, repetindo o feito ao longo de uma carreira estável, sem os altos e baixos que muitos artistas talentosos enfrentam ocasionalmente. Claro, o consumo excessivo de uísque escocês e o fluxo constante de traficantes com cocaína contribuíram para sua desconexão com a realidade e para sua crença inabalável em si mesmo (quase sempre apenas em si mesmo), sem mencionar as inúmeras mulheres que o procuravam, não por vê-lo como um romântico, mas por outros interesses.

O principal trunfo de “Não Olhe para Trás” é desmontar a ilusão de que as celebridades possuem um charme além do entendimento humano; na verdade, esses indivíduos privilegiados acabam acreditando que estão acima do bem e do mal, sustentados por uma riqueza que, bem administrada, pode durar gerações sem que ninguém tenha algo a ver com isso. Baseado em uma história real (ou quase), como indica o prólogo, Dan Fogelman nos convida a explorar os aspectos mais sombrios da vida de uma estrela que, de repente, se vê diante de um vazio existencial que nunca imaginou possível, até que uma carta enigmática de outro ícone da música, com uma personalidade completamente oposta, abala suas poucas certezas.

Fogelman, reconhecido pelos roteiros de “Amor a Toda Prova” (2011), dirigido por Glenn Ficarra e John Requa, e “Enrolados” (2010), de Nathan Greno e Byron Howard, utiliza clichês de maneira eficaz para afirmar a verdade universal de que qualquer pessoa pode, em algum momento, reavaliar suas escolhas e direcionar sua vida para caminhos menos turbulentos. No entanto, isso não significa uma transformação repentina em um ser completamente virtuoso.

Conquistar o mundo exige sacrifícios. Cada indivíduo é um universo particular, repleto de ideias, desejos e necessidades únicas, além de uma infinidade de expectativas sobre a vida e sonhos que, muitas vezes, ele sabe que nunca realizará. Essa dureza que envolve o que não é visível toca a identidade de cada pessoa; todos nós, em maior ou menor grau, somos confrontados com nossas fraquezas desde o nascer do sol até o anoitecer, do nascimento até a morte.

Lidar com essas companhias indesejadas, que nunca são bem-vindas em sua presença constante, é um exercício metódico de fé profunda na existência e no que podemos realizar de verdadeiramente excepcional por nós mesmos. Buscamos desesperadamente uma beleza que justifique todo o sofrimento que a vida nos impõe, mas nem sempre entendemos que a vida transforma em beleza muito do que percebemos como algo banal.

Até o ridículo, o patético e o dramático da vida têm tanta beleza quanto o romance mais docemente sereno, com a ressalva de que romances serenos talvez nunca nos proporcionem o prazer do devaneio que diferencia nossas vidas das de outras criaturas.

Danny é um fauno, um pecador, uma criatura indomável que não se submete a ninguém e não aceita ser comandado. Talvez o único que consiga trazê-lo à razão seja Frank Grubman, o empresário interpretado por Christopher Plummer (1929-2021), não por coincidência, o homem mais velho que ele conhece. Fogelman aproveita ao máximo a excelente química entre Al Pacino e Plummer, alternando entre momentos de serenidade e caos em seu personagem, assim como Pacino faz com Danny – com a diferença de que, para que o encantador de multidões recue, ele precisa ganhar algo de muito valor.

Esse tesouro é a carta que John Lennon (1940-1980) lhe escreveu e que ele nunca soube da existência, o incentivo que faltava para que ele procurasse seu filho, Tom Donnelly. Bob Cannavale desvela as tragédias pequenas e grandes desse homem comum, nada parecido com Danny, que deve uma hipoteca de duzentos mil dólares, tem uma esposa grávida de seis meses e está morrendo de uma leucemia rara. A partir desse ponto, “Não Olhe para Trás” adota um tom melodramático bem-vindo, que a habilidade de Cannavale e Pacino, nesta ordem, evita que se torne piegas. Um feito notável em tramas desse tipo.


Filme: Não Olhe para Trás
Direção: Dan Fogelman
Ano: 2015
Gêneros: Drama/Comédia/Musical 
Nota: 8/10