Bertolt Brecht, dramaturgo alemão do século 20, pode ter tocado em uma verdade incômoda ao afirmar que as nações que necessitam de heróis não são felizes. No entanto, quando olhamos para a humanidade em sua essência, com todas as suas imperfeições e limitações, é impossível negar a importância daqueles que se sacrificam em nome de uma causa maior.
Heróis da vida cotidiana, pessoas reais que enfrentam desafios monumentais, muitas vezes pagam um preço elevado por sua coragem. São indivíduos que deixam para trás suas casas, suas famílias e, às vezes, suas próprias vidas em prol de um ideal ou de salvar outros. Eles não são figuras mitológicas, mas seres humanos que, apesar de suas fraquezas, demonstram uma bravura que transcende o ordinário.
Seus feitos, embora celebrados em cerimônias e homenagens póstumas, não trazem de volta aqueles que partiram. Assim, surge a necessidade constante de novos heróis, que seguirão os passos dos anteriores, enfrentando desafios semelhantes e, possivelmente, encontrando o mesmo destino.
O lançamento do filme “Homens de Coragem” em 2017, quatro anos após a tragédia que retrata, gerou grande interesse e debate. Esse tipo de filme, que explora desastres reais, costuma levantar questões sobre ética, humanidade e o verdadeiro significado de altruísmo em um mundo onde o pragmatismo e a indiferença muitas vezes prevalecem.
A história desafia a visão cínica do mundo, perguntando o que se ganha ao salvar vidas quando parece que tudo mais está perdido. Há aqueles que, ao invés de fugir do perigo, correm em sua direção para salvar outros, movidos por uma força interna que supera o medo e o instinto de autopreservação. O diretor Joseph Kosinski, ao contar essa história, mostra domínio tanto da narrativa quanto da tecnologia, criando cenas que parecem assustadoramente reais, graças ao trabalho impressionante do diretor de fotografia Claudio Miranda.
“Homens de Coragem” foca na rotina de um grupo de bombeiros do Arizona que busca se tornar uma equipe de elite, os chamados hotshots, especialistas em combater incêndios florestais. Para isso, eles precisam dominar técnicas complexas, como a criação de aceiros, que consistem em linhas de fogo controladas para deter o avanço das chamas.
Durante essa jornada, a equipe, liderada por Eric Marsh (interpretado por Josh Brolin), observa e aprende com outras equipes mais experientes, enquanto aguarda a oportunidade de provar seu valor. Duane Steinbrink, interpretado por Jeff Bridges, atua como mentor do grupo, fornecendo orientações e apoiando o time em sua busca por excelência.
O filme também destaca a importância do companheirismo e da redenção pessoal, especialmente com a chegada de Brendan McDonough (interpretado por Miles Teller), um jovem que luta contra o vício em drogas. Ao descobrir que será pai, McDonough decide mudar de vida e se junta à equipe.
Sua trajetória, marcada por altos e baixos, ressoa com a luta constante dos bombeiros, que enfrentam situações de estresse extremo, mas encontram consolo na camaradagem. A atuação de Teller é particularmente eficaz em transmitir a vulnerabilidade e a força de seu personagem, contribuindo para uma narrativa que explora o impacto emocional do trabalho desses homens.
À medida que a trama avança, o público começa a sentir a iminência de uma tragédia. Mesmo conhecendo o destino dos bombeiros de Prescott, é difícil acreditar no que está por vir. “Homens de Coragem”, na Netflix, é uma história real, contada com uma dignidade que emociona e inspira.
Para aqueles que não se deixam envolver pelo drama humano, o filme ainda oferece uma qualidade técnica excepcional. No entanto, é improvável que alguém assista a essa história sem ser tocado pela coragem e sacrifício dos que, mesmo diante de adversidades insuperáveis, escolheram enfrentar o fogo para salvar vidas que jamais conheceriam.
Filme: Homens de Coragem
Direção: Joseph Kosinski
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 10