Obra-prima de Almodóvar indicada a 90 prêmios, incluindo 3 Oscars, na Netflix Divulgação / Sony Pictures

Obra-prima de Almodóvar indicada a 90 prêmios, incluindo 3 Oscars, na Netflix

O filme “Mães Paralelas” de Pedro Almodóvar é uma exploração profunda das complexas relações entre mães e filhos, uma temática que o diretor já abordou em outras produções. Neste trabalho, Almodóvar retorna ao universo feminino, mas com uma abordagem renovada, trazendo à tona nuances menos exploradas e revelando facetas inéditas de seus personagens e narrativas. O título, que pode parecer simples à primeira vista, esconde uma intricada teia de emoções e situações que se entrelaçam de maneira única, característica marcante do estilo do diretor.

A história é conduzida com maestria pela atuação de Penélope Cruz, que, mais uma vez, demonstra uma compreensão profunda das intenções de Almodóvar. Ela interpreta Janis, uma fotógrafa de Madrid cuja vida profissional e pessoal se veem entrelaçadas de forma inesperada quando ela engravida de Arturo, um arqueólogo que conhece durante um trabalho. A trama segue Janis e Ana, uma jovem de 17 anos que, como Janis, também está grávida e divide o quarto com ela no hospital. A partir deste encontro, as vidas das duas mulheres se conectam de maneira irrevogável.

Almodóvar, com sua habilidade inconfundível, constrói uma narrativa que, embora pareça simples no início, rapidamente se complica, adicionando camadas de complexidade emocional e ética. A relação entre Janis e Ana evolui de uma convivência circunstancial para um vínculo profundo, marcado por segredos, revelações e desafios. A jovem Ana, interpretada por Milena Smit, apresenta um contraste com Janis: enquanto a maternidade para Janis é um desejo realizado, para Ana é uma fonte de dor e lembranças traumáticas.

O diretor também não se afasta de sua tendência de inserir comentários sociais e históricos em suas obras. Em “Mães Paralelas”, Almodóvar tece uma narrativa paralela que lida com as memórias dolorosas da Guerra Civil Espanhola, através da busca de Janis pelo corpo desaparecido de seu bisavô, vítima do conflito. Esse aspecto do filme, embora não tão desenvolvido quanto a trama central, adiciona uma dimensão histórica e política à obra, conectando o drama pessoal das personagens com a memória coletiva de uma nação.

A cinematografia, assinada por José Luis Alcaine, complementa a narrativa de Almodóvar com um uso magistral das cores, especialmente o vermelho, que se tornou uma marca registrada do diretor. Essa escolha estética não é meramente decorativa, mas carrega significados profundos, contribuindo para a atmosfera carregada de emoções e simbolismos que permeia o filme.

Em “Mães Paralelas”, Almodóvar demonstra, mais uma vez, sua capacidade de transformar melodramas em reflexões sobre temas universais, como a maternidade, a memória e a identidade. As atuações, em especial de Cruz e Smit, são intensas e cheias de nuances, sustentando o filme em seu ritmo introspectivo e emocionalmente carregado. O final do filme, que mistura o absurdo e o lírico, encapsula a essência de Almodóvar: um cineasta que vê a vida e a morte como partes inseparáveis de uma mesma narrativa, onde o passado sempre retorna para influenciar o presente.

“Mães Paralelas”, na Netflix, se estabelece como uma obra sólida dentro da filmografia de Almodóvar, mantendo a sofisticação e o cuidado com que ele constrói suas histórias, sempre atento às particularidades de seus personagens e à complexidade das relações humanas. O filme não só reafirma o talento do diretor, como também enriquece sua já vasta contribuição ao cinema contemporâneo.


Filme: Mães Paralelas
Direção: Pedro Almodóvar
Ano: 2021
Gênero: Drama/Comédia/Suspense
Nota: 9/10