Último dia na Netflix: o filme que Ben Affleck tenta esquecer há 20 anos Divulgação / 20th Century Studios

Último dia na Netflix: o filme que Ben Affleck tenta esquecer há 20 anos

Os heróis dos quadrinhos, sejam os mais luminosos ou os que habitam as sombras, compartilham um traço marcante: enfrentam as cicatrizes de uma infância dolorosa. Essas memórias os impulsionam a se lançarem em missões cada vez mais perigosas, muitas vezes arriscando suas próprias vidas, não apenas em nome da justiça, mas também em busca de redenção pessoal. Esse é o pano de fundo de “Demolidor: O Homem sem Medo”, dirigido por Mark Steven Johnson.

R de A trama acompanha Matt Murdock, um jovem sombrio criado por seu pai em Hell’s Kitchen, um dos bairros mais hostis de Manhattan, em Nova York. Com o tempo, a cidade tornou-se ainda mais caótica, Hell’s Kitchen foi rebatizada de Clinton, e Matt, agora cego, transformou-se em um advogado influente, comprometido com a defesa dos inocentes. Porém, sua cegueira é apenas uma das sombras que ele enfrenta diariamente.

Outro combatente da injustiça, também forjado pela DC Comics, é uma figura que lembra um Batman revisado, uma versão mais polida do herói criado por Bob Kane e Bill Finger em 1939. Este vigilante, após um dia exaustivo, sai à noite para enfrentar criminosos, porém com mais cautela. Johnson, talvez intencionalmente, recheia seu roteiro com referências ao Cavaleiro das Trevas.

Desde a fotografia de Ericson Core, dominada por tons de azul-petróleo e preto, até as escolhas narrativas iniciais, que inevitavelmente trazem à tona comparações. Logo na abertura, a câmera segue um rato que perambula pelos esgotos de Nova York até ser eliminado pelos gases tóxicos, uma cena que vai além do óbvio, servindo como prelúdio para uma ascensão visual até os vitrais de uma igreja, onde um sereno Jesus é retratado, apenas para, em seguida, a câmera despencar de volta ao chão. Nesse ponto, o Demolidor, conhecido como o “diabo da guarda” ou “o audacioso”, recebe o apoio do padre Everett, interpretado por Derrick O’Connor, que atua como seu mentor não oficial.

A narrativa então mergulha no épico, explorando como Matt ganha seus poderes após um acidente com substâncias químicas, sua relação com o pai Jack, um ex-pugilista decadente vivido com uma mistura de charme e tristeza por David Keith, seu amor por Elektra Natchios, encarnada por Jennifer Garner, e sua inevitável rivalidade com o Rei do Crime, um mafioso que compra consciências a baixo custo para aliviar sua própria culpa. No final, Demolidor e o vilão, interpretado por Michael Clarke Duncan, compartilham mais semelhanças do que diferenças, e o confronto decisivo entre eles justifica os 103 minutos do filme.


Filme: Demolidor: O Homem sem Medo 
Direção: Mark Steven Johnson
Ano: 2003
Gêneros: Ação/Fantasia
Nota: 8/10