Adaptação de livro com mais de 2 milhões de cópias vendidas no mundo, filme considerado o mais bonito dos últimos 25 anos está na Netflix Divulgação / Focus Features

Adaptação de livro com mais de 2 milhões de cópias vendidas no mundo, filme considerado o mais bonito dos últimos 25 anos está na Netflix

Desde o início do século 20, o cinema polonês tem desempenhado um papel fundamental ao registrar e reinterpretar eventos históricos marcantes, muitas vezes abordando temas de grande impacto social e político. Um dos primeiros exemplos notáveis dessa tradição é o filme “Cultura Prussiana”, de Mojżesz Towbin, lançado em 1908. Esse longa-metragem retratou a revolta estudantil de Września em 1901, um episódio emblemático da resistência polonesa contra a opressão prussiana. No entanto, devido à censura imposta pelo czar russo Nicolau II, o filme foi retirado de circulação e permaneceu perdido por quase um século. Em 2000, foi redescoberto por Małgorzata e Marek Hendrykowski, dois acadêmicos poloneses que localizaram o filme em um arquivo em Paris, restituindo-o ao patrimônio cultural da Polônia.

Ao longo de mais de cem anos, a Polônia se consolidou como um centro de produção cinematográfica, com diretores que deixaram marcas profundas no cenário internacional. Cineastas como Andrzej Wajda, Krzysztof Kieslowski e Roman Polanski são exemplos de talentos distintos que abordaram, em suas obras, temas complexos e provocadores. Seus filmes, muitas vezes considerados controversos, desafiaram normas estabelecidas e frequentemente enfrentaram censura devido ao seu teor crítico.

Roman Polanski, em particular, explorou suas próprias experiências traumáticas na adaptação de “O Pianista”, um filme que se tornou um dos mais emblemáticos de sua carreira. Polanski trouxe à tela uma narrativa que reflete sete décadas de lembranças dolorosas e questionamentos sobre o que poderia ter acontecido se ele não tivesse escapado do Holocausto. Durante a Segunda Guerra Mundial, Polanski, ainda criança, foi separado de sua família e conseguiu escapar do campo de extermínio de Auschwitz graças à ajuda de seu pai, que o fez passar por uma cerca de arame farpado. A jornada de Polanski, desde esses momentos de extremo perigo até se tornar um dos cineastas mais reconhecidos de sua época, é um testemunho de resiliência que permeia seu trabalho.

Em “O Pianista”, Adrien Brody assumiu o papel de Wladyslaw Szpilman, o protagonista, e entregou uma interpretação que capturou a complexidade do personagem. Szpilman é retratado como um homem determinado a manter sua dignidade e seus princípios, mesmo diante da ocupação nazista. Brody, que se dedicou intensamente ao papel, demonstrou uma intuição notável ao personificar a altivez e a resistência de Szpilman, atributos que conferem uma dimensão adicional ao personagem e destacam sua luta pela sobrevivência em meio ao caos de Varsóvia ocupada.

O filme também explora o encontro entre Szpilman e Wilm Hosenfeld, um oficial nazista interpretado por Thomas Kretschmann. Esse encontro, ocorrido por acaso, revela a tensão e a complexidade das interações humanas em tempos de guerra, quando inimigos potenciais podem se tornar salvadores inesperados. Hosenfeld, em vez de denunciar Szpilman, escolhe ajudá-lo, fornecendo-lhe alimentos e proteção, um ato de humanidade que contrasta fortemente com a brutalidade do contexto em que ambos se encontram.

Além das atuações e da narrativa, “O Pianista” é destacado por sua representação visual, que utiliza uma paleta de cores esmaecidas para refletir a degradação e o desespero que caracterizaram aquele período da história. O filme não apenas narra a luta de Szpilman para sobreviver, mas também captura o espírito de uma Polônia exaurida pela guerra, uma nação que serviu como palco para incontáveis histórias de dor e resistência.

Através de sua obra, Polanski não apenas revisita suas memórias, mas também oferece ao público uma visão profunda e comovente dos horrores da guerra e da capacidade humana de resiliência. “O Pianista” se torna, assim, um filme que vai além da simples reconstituição histórica, tornando-se um tributo à sobrevivência e à complexidade das escolhas humanas em tempos extremos.


Filme: O Panista
Direção: Roman Polanski
Ano: 2002
Gênero: Biografia/Drama/Guerra
Nota: 10