Com Denzel Washington e Morgan Freeman, drama épico vencedor de 3 Oscars está na Netflix Divulgação / TriStar Pictures

Com Denzel Washington e Morgan Freeman, drama épico vencedor de 3 Oscars está na Netflix

O filme “Tempo de Glória”, dirigido por Edward Zwick e lançado em 1989, traz à tona uma reflexão crítica sobre um período complexo e muitas vezes mal compreendido da história dos Estados Unidos: a Guerra Civil Americana (1861-1865). O foco central do filme é a participação de soldados negros no conflito, um aspecto frequentemente relegado a notas de rodapé nos registros históricos, apesar de sua importância crucial para a luta pela liberdade e igualdade de direitos nos Estados Unidos.

Na narrativa, Zwick explora o papel do 54º Regimento de Massachusetts, uma unidade composta exclusivamente por soldados negros, liderada por Robert Gould Shaw, um jovem coronel branco interpretado por Matthew Broderick. Shaw, que é retratado como um líder corajoso e idealista, dedica-se à causa abolicionista com o mesmo fervor de Abraham Lincoln, e sua trajetória é um dos pontos centrais do filme. No entanto, o foco predominante em Shaw levanta questionamentos sobre a representação das figuras negras, que, apesar de serem os verdadeiros protagonistas da história, acabam por vezes sendo ofuscadas.

O filme começa com cenas que retratam os soldados em Antietam Creek, Maryland, onde Zwick utiliza enquadramentos que permitem ao público se aproximar da realidade vivida por esses homens. O roteiro de Kevin Jarre, repleto de reviravoltas, se esforça para equilibrar a narrativa entre a grandiosidade da figura de Shaw e as histórias dos soldados negros sob seu comando. Entre essas figuras está Thomas Searles, interpretado por Andre Braugher, que encarna o papel de um negro educado e politizado, cuja presença é um dos destaques do filme. No entanto, Searles, assim como outras personagens negras, acaba sendo subutilizado na trama, servindo mais como um elo para conduzir a narrativa em direção ao desfecho trágico do regimento.

Denzel Washington, em uma performance marcante como o soldado Trip, um escravo fugitivo, traz uma intensidade que se destaca, especialmente em momentos cruciais entre o segundo e o terceiro ato do filme. Embora seu papel tenha sido reconhecido com um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, há uma sensação de que seu talento poderia ter sido ainda mais explorado, dada a profundidade e a complexidade do personagem.

Morgan Freeman também oferece uma atuação sólida como John Rawlins, um guia moral para os jovens soldados, mas, assim como os outros, é ofuscado pela narrativa centrada em Shaw. O filme culmina na batalha de 18 de julho de 1863, onde o 54º Regimento enfrenta uma derrota devastadora. Embora trágica, essa batalha é reconhecida pelos historiadores como um marco no caminho para o fim da escravidão nos Estados Unidos, ressaltando o sacrifício e a coragem desses homens que lutaram por uma causa que transcende o próprio conflito.

“Tempo de Glória”, na Netflix, é, portanto, um filme que não só narra uma história esquecida, mas também desafia o espectador a refletir sobre as complexidades da memória histórica e sobre a importância de reconhecer e honrar as contribuições daqueles que, por muito tempo, foram ignorados.


Filme: Tempo de Glória
Direção: Edward Zwick
Ano: 1989
Gêneros: Drama/Guerra
Nota: 9/10