O filme de maior bilheteria do cinema chinês nos últimos 2 anos está na Netflix, e você ainda não assistiu Divulgação / Netflix

O filme de maior bilheteria do cinema chinês nos últimos 2 anos está na Netflix, e você ainda não assistiu

À medida que épocas de pesar e sacrifício se encerram, surge uma nova fase de alívio, apenas para que dias de desalento, medo e instabilidade ressurgam, reiniciando o ciclo dos infortúnios. A vida é uma batalha incessante, da qual ninguém pode se eximir, como sabe qualquer um que se esforça para sobreviver com o fruto de seu trabalho, a decisão mais acertada e arriscada que alguém pode tomar. Viver é como estar em um picadeiro cercado de feras, similar aos espetáculos da Roma Antiga, onde o patético e o monstruoso se encontravam em homens imbuídos de um heroísmo cínico. Heroísmo nenhum é autêntico quando se deve adotar um espírito de combate perpétuo, prolongado indefinidamente sem qualquer justificativa razoável. Embora possa parecer sensacionalismo barato, esse cenário de dificuldades extremas, que nos transforma em lutadores involuntários em uma arena de vida ou morte, se ergue agora e além deste triste presente, impulsionado por nossas próprias ações, as mesmas que nos conduzirão a um futuro ainda mais incerto do que qualquer passado

Histórias que tentam prever o futuro utilizam uma premissa flexível, que acomoda conceitos os mais inverossímeis. Nunca poderíamos prever como estaremos em um futuro marcado por cenários extremos, com a falta de recursos essenciais como água para manter o corpo funcionando, ou até mesmo oxigênio, vital para a vida, mas cada vez mais contaminado por impurezas letais, uma ameaça factual que se torna cada vez mais recorrente. “Exército do Amanhã”, dirigido pelo honconguês Ng Yuen-fai, possui seus méritos. No entanto, a repetição de temas já explorados por outros diretores em circunstâncias anteriores pouco adiciona ao cinema, mesmo que os efeitos visuais garantam um resultado estético impecável.

O roteiro de Lau Ho-leung e Mak Tin-shu segue a linha de produções de sucesso como “Impacto Profundo” (1998), dirigido por Mimi Leder, “Independence Day” (1996), de Roland Emmerich, ou o icônico “Robocop — O Policial do Futuro” (1987), de Paul Verhoeven, que teve outras três versões, a última em 2017, dirigida pelo brasileiro José Padilha. Filmes desse tipo expressam uma preocupação invencível do homem com a destruição da Terra, embora essa seja uma preocupação falsa por vários motivos. O planeta pode sofrer agressões violentas e, embora sofra as consequências, após milhões de anos (ou centenas de milhares, o que é praticamente o mesmo), tudo volta ao normal, sem a presença humana para estragar tudo novamente. A propósito, nunca li nada sobre o impacto ambiental da produção de filmes como “Exército do Amanhã” ou “Avatar” (2009), de James Cameron, que retorna com “Avatar: O Caminho da Água” (2022), mais hipócrita do que nunca.

A apropriação de “Avatar” por Ng Yuen-fai — que menciona abertamente uma tal de Pandora como um refúgio em perigo — revela um problema complexo do qual o cinema está condenado a sofrer periodicamente: dinheiro, ou melhor, a falta dele. Nesse quesito, o diretor de “Exército do Amanhã” levou a melhor sobre o colega canadense. Contudo, esse é um jogo em que todos saem perdendo.


Filme: Exército do Amanhã
Direção: Ng Yuen-fai
Ano: 2022
Gêneros: Ficção científica/Ação/Drama
Nota: 7/10