O romance fenômeno de vendas “É Assim que Acaba”, de Colleen Hoover, teve sua estreia nos cinemas brasileiros, com Blake Lively estrelando no papel principal. Sucesso nas redes sociais e nas livrarias do mundo todo, o livro ficou bastante conhecido pelo público adolescente e gerou polêmica na internet por tratar de assuntos delicados.
A capa pode nos fazer pensar que o livro é um romance fofo, água com açúcar, daqueles que já sabemos o final antes mesmo de começar a leitura. Não é o caso do romance de Colleen Hoover. O livro retrata de forma bastante explícita a violência doméstica e, principalmente, como a vítima se comporta nesse tipo de situação.
O enredo nos apresenta Lily Bloom, uma jovem norte-americana que viveu sua vida toda em uma pequena cidade do interior, junto de seus pais. Anos depois, ela conseguiu se mudar para Boston, uma cidade grande e cheia de vida, onde finalmente pôde recomeçar.
Certo dia, após o funeral de seu pai, Lily decidiu subir no telhado de um dos prédios mais altos de Boston para espairecer a cabeça e relaxar. O que ela não esperava era conhecer Ryle, um médico cirurgião que trabalha em um dos hospitais mais conceituados da cidade. Automaticamente, uma química fenomenal nasce entre os dois e eles decidem contar “verdades nuas e cruas” um para o outro, ou seja, contar segredos íntimos sobre suas vidas, prometendo sempre ser completamente sinceros sobre eles. Lily pensa que nunca mais encontrará aquele homem de novo, mas, por coincidência do destino, sua nova funcionária é irmã de Ryle, o que faz com que seus encontros sejam cada vez mais frequentes.
Simultaneamente, Lily tenta esquecer seu passado, da época em que era adolescente e ainda morava com seus pais, quando presenciava diariamente a violência física e psicológica que seu pai praticava contra sua mãe. Ao mesmo tempo, ela se aproximava de Atlas, um menino que vivia em uma casa abandonada ao lado da sua.
A violência
Ryle parece um homem perfeito e é descrito como um verdadeiro galã, o tipo de homem que tira o fôlego de qualquer mulher só de chegar em um ambiente. Depois de se encontrarem mais algumas vezes, Lily e Ryle começam a ganhar intimidade, já que o principal objetivo de Ryle é levar a personagem para a cama. O comportamento do rapaz, desde o início, aparenta ser bastante problemático, já que ele só fala de si mesmo o tempo todo e trata Lily como um mero objeto que quer conquistar para obter prazer carnal.
O casal começa a se aproximar cada vez mais e logo já estão morando juntos. Certo dia, após chegar do trabalho, Lily decidiu preparar um ensopado para que os dois comessem juntos. Ryle, por sua vez, levou uma garrafa de vinho para casa e os dois beberam juntos enquanto trocavam carícias. Alguns minutos depois, Ryle começou a ficar embriagado e, de repente, Lily percebeu que o ensopado estava queimando. Ryle corre para tirá-lo do forno, mas acaba derrubando a travessa no chão da cozinha, e o vidro se destrói em vários pedaços. Alterada pelo álcool, Lily começa a gargalhar de toda a situação, e só depois percebe que Ryle machucou sua mão. Enfurecido com Lily, Ryle a empurra no chão e ela fica bastante machucada.
Depois dessa primeira violência, várias outras acontecem ao longo do livro quando Ryle percebe que Atlas e Lily já tiveram um envolvimento no passado, o que o faz ter diversos surtos de ciúmes. Lily demora para conseguir processar tudo o que está acontecendo e para admitir para si mesma que está passando exatamente pela mesma situação que sua mãe passou com seu pai.
A romantização
O ponto mais problemático do livro, sem dúvidas, é o fato de a autora, apesar de tratar de um tema bastante importante e relevante, não tratar o assunto com a gravidade devida. Ryle é descrito durante todo o livro como um príncipe, e mesmo depois que revela sua verdadeira personalidade, ele ainda é perdoado por Lily e continua tendo contato com a filha que os dois tiveram juntos no final do livro.
É importante destacar que a culpa não é da vítima. Lily não pode ser julgada por ter escolhido não denunciar, ou até mesmo por se sentir culpada por algo que não tem culpa alguma. O problema é a abordagem e a comercialização de um assunto tão delicado, sem nenhuma responsabilidade e com a suposta ideia de que seria um livro de romance água com açúcar.
Após o último capítulo do livro, a autora escreveu uma nota contando um pouco sobre sua experiência pessoal com o tema, quando revela que seu pai batia em sua mãe. Dessa forma, concluo que Colleen teve, de fato, uma boa intenção ao escrever o livro, mas seria realmente impossível falar sobre um tema tão complexo de forma completa. “É Assim que Acaba” é apenas um recorte de uma realidade muito triste, presente na casa de milhares de mulheres no mundo todo.
Apesar disso, o livro proporciona uma leitura leve e agradável, com uma linguagem de fácil compreensão. Ainda assim, não é um livro para todos. É importante estar atento aos gatilhos de violência doméstica, abuso sexual e relacionamento abusivo.