Sequência de um dos maiores fenômenos de ficção científica da história do cinema, obra-prima está na Netflix Divulgação / Sony Pictures

Sequência de um dos maiores fenômenos de ficção científica da história do cinema, obra-prima está na Netflix

Em 2017, “Blade Runner 2049” chegou às telas, proporcionando uma continuação de uma narrativa que começou três décadas e meia antes, com o clássico “Blade Runner” (1982) de Ridley Scott. O diretor Denis Villeneuve, conhecido por sua habilidade em criar filmes complexos e visualmente impressionantes, assumiu a tarefa de revisitar esse universo distópico. A conexão entre os dois filmes vai além da simples continuidade da história; Villeneuve conseguiu preservar a essência do original, respeitando a obra de Scott enquanto trazia uma nova perspectiva ao público contemporâneo.

A relação entre Villeneuve e Scott foi marcada por um profundo respeito mútuo. Villeneuve, sempre reverente ao trabalho de Scott, não hesitou em admitir que estava construindo sobre os ombros de um gigante. Scott, por sua vez, reconheceu que qualquer obra, por mais perfeita que seja, está sujeita a novas interpretações e atualizações. Assim, a colaboração entre os dois diretores resultou em uma obra que, ao mesmo tempo em que honra o legado de Scott, também se afirma como uma criação própria e significativa.

“Blade Runner 2049” é uma reflexão sobre a humanidade e a identidade, explorando temas de dúvida e questionamento. O filme original, baseado no livro “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?” de Philip K. Dick, já trazia essas questões à tona, mas Villeneuve aprofundou ainda mais essa exploração. Dick, um dos autores mais influentes da cultura pop do século 20, tinha uma visão complexa e muitas vezes caótica da realidade, o que se reflete em sua obra. Embora ele não tenha inicialmente aprovado a adaptação cinematográfica de seu romance, com o tempo, “Blade Runner” de 1982 se tornou um clássico, ainda que não tenha sido unanimemente aceito de imediato.

O caminho até a criação de “Blade Runner 2049” não foi simples. Ridley Scott, envolvido em outros projetos, optou por não dirigir a sequência, mas manteve um papel importante como produtor executivo. Villeneuve, já estabelecido como um diretor de grande talento com filmes como “Os Suspeitos” (2013) e “A Chegada” (2016), foi a escolha natural para continuar a história. O lançamento de “Blade Runner 2049” em 2017 trouxe de volta às telas o universo distópico que fascinou tantos espectadores em 1982, agora com uma nova profundidade e complexidade.

O protagonista de “Blade Runner 2049”, K, interpretado por Ryan Gosling, é um personagem que luta com sua própria identidade. Como um replicante, ele é uma mistura de humano e máquina, constantemente refletindo sobre sua existência e buscando um propósito. Sua busca o leva a Rick Deckard, o protagonista do filme original, que sobreviveu contra todas as probabilidades. Deckard, vivido por Harrison Ford, retorna como uma figura solitária e enigmática, cuja presença no filme é tanto uma ligação com o passado quanto uma exploração de temas mais profundos de isolamento e desilusão.

Sob a perspectiva do existencialismo, corrente filosófica que enfatiza a importância da experiência individual sobre qualquer essência pré-determinada, “Blade Runner 2049” explora a ideia de que a existência precede a essência. K deseja ser humano, mas sua incapacidade de sentir emoções verdadeiras o coloca em um limbo existencial. A lembrança de um brinquedo de infância, um simples cavalinho de madeira, torna-se um símbolo central no filme, carregando consigo todo o peso das questões filosóficas que permeiam a obra.

Esteticamente, “Blade Runner 2049” é uma obra-prima. A cinematografia de Roger Deakins é um dos pontos altos do filme, criando um ambiente visual que é ao mesmo tempo deslumbrante e opressivo. O filme, com suas quase três horas de duração, oferece uma experiência visual e emocional que continua a ressoar muito depois que os créditos finais rolam.

A visão de Villeneuve para “Blade Runner 2049”, na Netflix, é uma continuação natural da atmosfera noir e distópica do filme original, apresentando um mundo em que a humanidade parece cada vez mais resignada ao seu destino sombrio. As máquinas, que antes eram apenas ferramentas, estão agora à beira de se tornarem os verdadeiros vencedores da história. A pergunta que permanece é: será que elas realmente vencerão?


Filme: Blade Runner 2049
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2017
Gêneros: Ficção Científica/Ação
Nota: 10/10