E chega a hora da grande eleição da locomotiva do Brasil, a cidade de São Paulo. Orgulhosos de suas glórias, tal qual a Revolução de 9 de julho de 1932, os paulistas — rectius: os paulistanos — norteiam e concentram as virtudes nacionais. Maior metrópole da América Latina, responsável por praticamente 10% do PIB nacional, ela é indubitavelmente o centro das atenções nas disputas dos escrutínios das grandes capitais. Por óbvio, toda essa agitação hodierna não é por menos.
Desta feita, na festa da democracia municipal paulistana, o embate está efervescente pela presença de um — pasme! — forasteiro. Foi preciso a convocação de um salvador da pátria do centro do país para que houvesse uma reviravolta na principal eleição nacional. Ora, o que acontece no centro reflete, pois, no âmbito nacional; é de praxe. Aqui um breve momento de dúvida honesta e ponderada, entre parênteses: afora Jânio, campo-grandense, outro herói de fora, salvo a falha da fraca memória, houve outro a ocupar a cadeira presidencial? Se bem que isso é estória para outra inquietação; foquemos neste pleito, que é o interesse do momento.
O governo do estado já é dominado por um oriundo de outra localidade. Chegou a hora da capital, ora, pois. E, com pompas, o palco já foi armado para os louros desse que é o mais preparado candidato da história de todas as eleições — seja de qual confim se imagine. Multimilionário, formador de mentes vencedoras, com ideias tão surpreendentes quanto futuristas, o visionário-conservador tem o apreço já de pelo menos 10% do eleitorado. Ou mais. E ainda nem se está nas proximidades do grande evento. Um colosso, que só tende a crescer.
Já pudemos ser agraciados logo no primeiro debate com o que virá daqui adiante. Jargões do senso comum, acusações algures levianas, preterição das ideias para a cidade em razão do estrondoso ad hominem, enfim, um show suculento com o qual devemos ser profundamente gratos por assistir. Para a surpresa de zero pessoa, a despeito das atrocidades, foi ele, o forasteiro, o grande vencedor das atenções — positiva ou negativa, que digam, que falem. E, numa localidade que elege quadrienalmente de palhaço a ator pornô, a vitória de um coach não surpreenderá o mindset de ninguém. Afinal, non ducor, duco. Mas, claro, é o Nordeste, oxente, que vota mal neste absurdo continental.