Na Índia, as tradições têm peso. Em 2021, Vinil Matthews falou de um suposto episódio de adultério de uma mulher contra seu marido em “Beleza Avassaladora”, apanhado de situações entre “meramente” absurdas e fantásticas, seja qual for o pressuposto que se tome. As consequências de um desatino, tanto pior se pautado por meras suposições, voltam a ocupar as atenções de um público que aprendeu a gostar das maravilhosas doidices de Bollywood, e agora Jayprad Desai segue desdobrando os mistérios desse crime no ainda mais caudaloso e mais sombrio “Beleza Avassaladora 2”, com novas deambulações acerca do amor romântico, que sempre corre o risco de degringolar e assumir a natureza de uma doença, que não demora a trazer dor e morte. O roteiro de Kanika Dhillon lança mão de flashbacks, sobretudo na abertura, para situar o espectador outra vez na história, explicando parte do imbróglio entre Rani e Rishabh Saxena, o casal caído em desgraça interpretado com denodo por Taapsee Pannu e Vikrant Massey, para só então começar a descrever as novas angústias dos dois, conferindo destaque ao terceiro elemento dessa relação.
Para garantir que sua honra permanecesse imaculada, Rishabh se entrega a seus instintos mais pérfidos para que Rani conheça o grau de abjeção do comportamento que ele acredita que a esposa mantivera. Essa possível traição dá azo a castigos físicos austeros, e das entrelinhas depreende-se a velha misoginia que ordena que a mulher saiba o seu lugar, aceite-o e fique ali pelo resto da vida, como se tudo aquilo fosse um dado da natureza, imutável, ou, argumento ainda mais desumano, a vontade divina. Aos poucos,
Desai acrescenta as cenas verdadeiramente abjetas, depois de apresentar a anti-heroína de Pannu chegando afobada a uma delegacia de Janpath, um bairro afastado de Agra, cidade de Uttar Pradesh, no norte da Índia.
Ela narra uma briga que tivera com o marido, e em sua boca tornam-se ainda mais urgentes assuntos a exemplo de discriminação como política de estado, como modelo de costume a perpetuar desigualdades, forçando que certos indivíduos nunca ascendam numa sociedade especialmente injusta, em que as castas seguem como um obstáculo intransponível quanto a se dar uma guinada e deixar para trás um passado de opróbrio e humilhação. No terceiro ato, entra em cena Abhimanyu, o amante, de Sunny Kaushal, mas não há muito mais a ser feito pela pobre Rani, amaldiçoada e vista como a mais abjeta das criaturas por ter perdido uma perna. Continua triste a vida da mulher na Índia.
Filme: Beleza Avassaladora 2
Direção: Jayprad Desai
Ano: 2024
Gêneros: Thriller/Romance
Nota: 8/10