No mundo cada vez mais imediatista da inteligência artificial (e dos dispositivos móveis em particular), quinze anos podem ser a diferença entre a Era Mesozoica e os carros voadores que nunca saíram do papel ou da mente delirante da sonhadora geração Y — ou xennial, zona cinzenta entre a geração X e os disputados millennials, a depender da fonte —, que não faziam ideia de como seria viver num mundo hiperconectado. Nesse cenário, Orlando Friar, o ex-hacker vivido por Kevin Dillon em “Ameaça Explosiva”, ganha a vida, em meio a objetos, mecanismos, programas, dispositivos antes completamente alheios ao dia a dia do cidadão comum.
Esses aparatos, capazes de expandir a realidade, possibilitar ao indivíduo experiências que sequer imaginava, numa espécie de prolongamento de sua consciência mesma, adquiriram o status de meros eletrodomésticos, tão banais se tornaram. A partir de então, tudo o que a velha musa cantava tinha de cessar, para que novos anseios fossem alimentados, novas carências supridas, e nos entulhássemos de outras parafernálias.
A inteligência artificial, como se poderia imaginar, vem se tornando uma ameaça à humanidade e, em tudo seguindo como nas presentes condições, há de ser para breve o tempo em que, de concorrentes rancorosos e mudos, aparelhos, softwares, robôs, engrenagens de toda ordem passarão a adversários desleais, inatingíveis em seus planos macabros de subjugação de seus criadores e humanamente cruéis, emulando os mais de 140 mil anos de truculência de nossa espécie, fervida e refervida nos caldeirões da ambição, da fome de poder a todo custo e do ódio que puderam absorver da convivência conosco.
Ninguém, talvez sequer Leon Langford e Collin Watts, os roteiristas, acredita que seja plausível a situação apresentada em “Ameaça Explosiva”; contudo, o diretor James Cullen Bressack, um craque em produções de baixíssimo orçamento, desenvolve a história de um antes cibercriminoso transformado em ás da segurança virtual obrigado a se meter num golpe que mistura terrorismo e roubo multimilionário se não quiser ter as vísceras espalhadas por sua sala, devido a uma bomba sob sua cadeira, posta ali sabe Deus como.
Este é mais uma pérola do “quanto pior, melhor”, que não atenta para detalhes pueris como o fato de o micro-ondas da sala de descanso ser uma potencial fonte de destruição muito mais avassaladora e mais discreta — além de muito mais vulnerável a ataques remotos. Louve-se a coragem de Bressack, e nos divirtamos com sua galhofa pseudocientífica.
Filme: Ameaça Explosiva
Direção: James Cullen Bressack
Ano: 2022
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 7/10