Recordista de bilheteria: filme de aventura com Tom Cruise, que foi visto por 150 milhões de pessoas, está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Recordista de bilheteria: filme de aventura com Tom Cruise, que foi visto por 150 milhões de pessoas, está na Netflix

Para muita gente, Tom Cruise pode não ter tomado a melhor das decisões ao aceitar dar vida a Nick Morton, o protagonista de “A Múmia”, contudo a Universal estava disposta a abrir as burras para fixar seu nome entre os grandes estúdios no que tange a essas narrativas fantásticas sobre monstros de outros tempos que voltam para infernizar o cotidiano de pobres mortais, em especial um caçador de relíquias do Egito Antigo encomendadas por multimilionários em busca de algum prazer para aplacar seu tédio.

O diretor Alex Kurtzman, supervisionado de perto por David Koepp, Dylan Kussman e Christopher McQuarrie, os roteiristas, faz girar uma engrenagem bem-azeitada, dividida quase cartesianamente entre uma introdução algo breve, lembrando o filme homônimo de 1999, a cargo de Stephen Sommers; o conflito central, momento em que Cruise, como sói acontecer, tira um gordo coelho da cartola; e a conclusão, com direito a alguma poesia. No meio disso tudo, cresce a figura de uma princesa que deixa a sepultura na intenção de reaver seu trono, o que, claro, vai contra os planos do nosso herói.

Ninguém passa incólume à mera suposição de que, algum dia, a humanidade acabará colhendo todos os amargos frutos que hão de nascer da semente de negligência, pouco caso, predação indiscriminada e ganância sem freio e sem propósito que lançou pela Terra, globo feito em grande parte da água cada vez mais preciosa com que irrigamos as lavouras que alimentam gente e bichos, progressos e atrasos. Conforme avança o implacável tempo, consegue-se, aos poucos, ter alguma dimensão quanto ao impacto de nossas escolhas, se nossa jornada se dá pelo lado certo da história, se fazemos nossa parte quanto a conservar intacta a beleza que encontramos pelo caminho, se nossas fraquezas levam-nos a uma omissão perigosa, que implica risco para nós mesmos e para aqueles que nos rodeiam, se devemos interromper velhos hábitos, enquanto ainda nos sorri a esperança, e começar de novo, na medida do que se nos apresentar possível, por mais que tal empreitada vá ter mesmo suas muitas pedras, seus tantos obstáculos e essa viagem assemelhe-se mais a uma despedida.

No prólogo, um trecho da Prece pela Ressurreição dos egípcios, diz que a “morte é o portal para uma vida nova. Vivemos hoje, iremos viver de novo. De muitas formas, voltaremos”. Esses versos poderiam ser mais verdadeiros se a civilização de hoje deixasse quietos aqueles que já foram, e não ficasse atrás de um espaço que não lhe pertence. Quase novecentos anos depois, durante a escavação de 42 quilômetros para novos túneis ferroviários, operários descobriram uma tumba com féretros de cavaleiros das Cruzadas em Londres, um imenso cemitério antigo alagado pelo Tâmisa. Nick Morton vai atrás desse tesouro e encontra a ira de Ahmanet, desperta de um sono de cinco séculos. Cruise e Sofia Boutella dividem boa parte da trama, até Morton também se transformar numa criatura sobrenatural e encontrar a redenção a um custo muito alto, perambulando entre trevas e luz, mal e bem.Sua natureza humana há de perseguir um jeito de quebrar a maldição. Mas isso é assunto para um próximo capítulo.


Filme: A Múmia
Direção: Alex Kurtzman
Ano: 2017
Gêneros: Terror/Ação 
Nota: 8/10