Romance com Nicole Kidman visto por mais de 30 milhões de pessoas no primeiro mês de estreia na Netflix Divulgação / Sony Pictures

Romance com Nicole Kidman visto por mais de 30 milhões de pessoas no primeiro mês de estreia na Netflix

O amor, com sua complexa mistura de prazeres e desafios, é uma força que, embora desejada, frequentemente enreda o ser humano em dilemas inesperados, não muito diferentes de uma mosca presa na teia de uma aranha. As reações que ele provoca são imprevisíveis, variando conforme a pessoa envolvida, e sua intensidade pode tanto encantar quanto desagradar.

Em “Tudo em Família”, Nicole Kidman assume o papel de Brooke Harwood, uma personagem que foge dos papéis tradicionais que a atriz tem desempenhado tanto no cinema quanto no streaming. A narrativa explora a complexidade das comédias românticas, um gênero que, quando bem executado, consegue envolver o público com uma combinação de humor e uma dose de crítica ácida.

Richard LaGravenese, diretor conhecido por sua habilidade em explorar as nuances do comportamento humano, mais uma vez demonstra sua maestria ao oferecer uma história que, embora não seja completamente original, apresenta uma abordagem fresca e cativante.

O filme é construído sobre a familiaridade de obras anteriores, como “P.S. Eu Te Amo” (2007), “Ghost — Do Outro Lado da Vida” (1990) e “Harry e Sally — Feitos Um para o Outro” (1989). Ele entrelaça elementos dessas histórias com uma trama atual, onde as tensões surgem entre uma filha zelosa e sua mãe, que se envolve romanticamente com o chefe da filha, um ator de super-heróis com uma reputação duvidosa. A dinâmica entre os personagens lembra a recente obra “Uma Ideia de Você” (2024), de Michael Showalter, que também explora as complicações dos relacionamentos modernos.

O gênero dos dramas românticos, que outrora carregava a promessa de que o amor poderia superar todas as adversidades, parece hoje mais um reflexo de tempos passados. A crença de que o amor é capaz de transcender todos os obstáculos está cada vez mais distante das realidades contemporâneas, tornando-se quase uma relíquia de tempos idos. “Tudo em Família”, apesar de não ser uma obra-prima, consegue se destacar ao escapar das fórmulas pré-estabelecidas que muitas produções seguem rigorosamente, criando uma narrativa que, apesar de sentimental, mantém uma coerência interna.

O roteiro, assinado por Carrie Solomon, equilibra bem a expectativa do público com as reações autênticas dos personagens frente às situações mais difíceis. É uma história que, apesar de parecer trivial à primeira vista, revela-se mais profunda ao se desenrolar.

A protagonista, Brooke, uma escritora de renome que sofre de bloqueio criativo, parece estar à procura de uma experiência que a tire da inércia e reviva sua capacidade de criar. Por outro lado, Zac Efron, que interpreta Chris Cole, um astro de uma franquia de filmes de ação medíocres, encontra-se num ponto de estagnação na carreira, incapaz de reconhecer sua própria vaidade como o obstáculo.

À medida que esses dois personagens atormentados se aproximam, contrariando os desejos de Zara, a filha de Brooke, interpretada por Joey King, a trama se desenvolve. Zara, ao contrário dos demais, está em plena ascensão profissional e é a única a alcançar algum sucesso real. O filme, embora não seja extraordinário, se apoia em atuações sólidas, como a de Kathy Bates no papel de Leila, avó de Zara e ex-sogra de Brooke, trazendo um impulso necessário à história.

A narrativa de “Tudo em Família”, na Netflix, pode não inovar no panorama das comédias românticas, mas encontra seu valor na capacidade de explorar os dilemas emocionais de seus personagens, oferecendo ao público uma reflexão sobre os desafios e as contradições do amor em tempos modernos.


Filme: Tudo em Família
Direção: Richard LaGravenese
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10