Indicado a 74 prêmios e ganhador de 6 Oscars, um dos filmes mais belos da história do cinema está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Indicado a 74 prêmios e ganhador de 6 Oscars, um dos filmes mais belos da história do cinema está na Netflix

É possível que filmes como “Forrest Gump — O Contador de Histórias”, que está na Netflix, não encontrem mais espaço no cinema contemporâneo. A obra retrata os devaneios e os pensamentos mais profundos de um homem que, desde cedo, percebeu que nunca conseguiria se adaptar ao mundo ao seu redor. Ele, então, se refugia em um vasto universo criado por si mesmo, alimentado por aqueles que sempre o trataram com desprezo.

O filme é o resultado da combinação perfeita do roteiro impecável de Eric Roth e Winston Groom (1943-2020), da direção inspirada de Robert Zemeckis, dos efeitos especiais coordenados por Allen Hall e, evidentemente, de um elenco extraordinário, liderado por um ator que, à época, já era um dos rostos mais conhecidos do mundo.

Mesmo com o reconhecimento global e talento inquestionável, Tom Hanks se supera neste papel, consolidando-se como um dos grandes ícones de Hollywood. A profundidade humana de seu personagem faz com que qualquer pessoa possa identificar, em si, um pouco de Forrest, aquele lado que muitas vezes é sufocado ao longo da vida.

Forrest Gump está presente em todos os grandes acontecimentos históricos entre as décadas de 1950 e 1980. Talvez ele fosse mesmo um parente distante de Nathan Bedford Forrest (1821-1877), um dos líderes das tropas sulistas durante a Guerra Civil Americana (1861-1865) e o primeiro Grande Mago da Ku Klux Klan, de 1867 a 1869.

Apesar de ser um detalhe que passa despercebido por muitos, essa possível ligação familiar é essencial para compreender uma das camadas psicológicas mais intrigantes do personagem de Hanks — alguém com uma inteligência peculiar que absorve uma quantidade monumental de informações sem, contudo, processá-las completamente.

Nas cenas iniciais, é evidente o desconforto e o medo que a enfermeira, interpretada por Rebecca Williams, sente ao dividir um banco de ônibus com Forrest. Essa sensação inicial evolui para compaixão, empatia e, finalmente, uma admiração silenciosa, até que ela parte em sua condução.

Roth, Groom e Zemeckis não se aprofundam no provável autismo de Forrest, menos por receio de críticas e mais por desconhecimento do tema à época. O foco recai sobre a relação complexa e doentia que ele mantém com sua mãe, que chega a se sacrificar para garantir que o filho, mesmo com um QI de 75, tenha acesso à educação inclusiva. Sally Field, em uma atuação que complementa brilhantemente a de Hanks, eleva o filme como um todo.

Zemeckis apresenta uma interpretação da trajetória social de Forrest, que, durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), faz amizade com Benjamin Buford Blue, conhecido como Bubba, um soldado que, apesar de sua deficiência física, é aceito pelo exército, mas acaba morrendo em uma emboscada no Sudeste Asiático.

Mykelti Williamson, assim como Field, enriquece a narrativa do protagonista, que é entremeada por flashbacks e eventos históricos, como o atentado contra George Wallace, ex-governador do Alabama, além de participações simbólicas nas transformações culturais do século 20, como Elvis Presley e John Lennon.

Tudo isso leva à reflexão de que Forrest pode representar uma consciência crítica de um tempo que não estava preparado para ele. Embora tivesse suas limitações, Forrest teria seguido seu caminho até o fim nessa obra singular que, mais uma vez, o cinema dificilmente repetirá.


Filme: Forrest Gump — O Contador de Histórias
Direção: Robert Zemeckis
Ano: 1994
Gêneros: Drama/Comédia/Fantasia 
Nota: 10