O melhor filme que estreou na Netflix em agosto, até o momento Divulgação / Showtime Networks

O melhor filme que estreou na Netflix em agosto, até o momento

“The Caine Mutiny Court-Martial” não é apenas uma crítica à hierarquia militar; é um exame da autoridade em instituições respeitadas como a Marinha dos Estados Unidos e além. No último filme do renomado William Friedkin (1935-2023), há uma provocação contínua de ideias estabelecidas sobre sanidade, loucura e o preço da ambição. Friedkin, conhecido por sua habilidade em criar tensão, desafia o espectador a questionar até que ponto devemos lealdade cega a nossos superiores e como circunstâncias extraordinárias moldam a ascensão de um indivíduo ao poder.

Baseado no romance autobiográfico de Herman Wouk (1915-2019), escrito em 1951 e inspirado por suas experiências durante a Segunda Guerra Mundial, o filme explora a complexidade da hierarquia militar. O livro de Wouk, vencedor do Prêmio Pulitzer de 1952, é transformado por Friedkin em um roteiro que investiga a incessante busca humana por aceitação, vantagens e superioridade. As cenas magistralmente encenadas refletem essa busca de forma sublime.

A narrativa do filme tem ressonâncias com o que Yuval Noah Harari discute em “Uma Breve História da Humanidade” (2011). Harari argumenta que o sucesso do homo sapiens na escala evolutiva é devido à capacidade de compartilhar informações sobre aspectos cruciais da sobrevivência. Friedkin, talvez sem ter lido Harari, aborda esse tema de modo semelhante, mas com um olhar voltado para o poder e a força. Logo na abertura, um plano geral nos coloca no Quartel-General Naval dos Estados Unidos, em São Francisco, onde toda a ação se desenvolve, ressaltando a claustrofobia e a intensidade do enredo.

Em um cenário que deveria ser amplo e livre, a decisão de situar a trama entre quatro paredes subverte expectativas. A corte marcial no filme questiona a tomada de comando do tenente Stephen Maryk sobre o capitão Philip Francis Queeg no caça-minas Caine durante a guerra. A acusação de que Queeg perdeu suas faculdades mentais coloca Jake Lacy e Kiefer Sutherland em um confronto tenso, onde uniformes impecáveis contrastam com a sujeira invisível das disputas internas. A presença de Lance Reddick (1962-2023) como o árbitro, capitão Blakely, adiciona um tom de despedida sombria ao filme.

Friedkin, com “The Caine Mutiny Court-Martial”, deixa uma mensagem clara: devemos constantemente desafiar as regras estabelecidas. Sua ausência no cinema deixará uma lacuna difícil de preencher, mas sua obra continua a nos inspirar a questionar e resistir.


Filme: The Caine Mutiny Court-Martial
Direção: William Friedkin
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Guerra/Thriller
Nota: 9/10