Indicado e 255 prêmios e ganhador do Oscar, obra-prima de Kenneth Branagh com Jamie Dornan acaba de chegar à Netflix

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Falar sobre aquilo que conhecemos e amamos é uma forma poderosa de conectar com o universal. Esse conceito, inspirado no poema “O rio da minha aldeia” de Fernando Pessoa, encapsula perfeitamente “Belfast”, um retrato profundamente pessoal da infância de Kenneth Branagh na Irlanda do Norte durante os anos 1960. A obra retrata uma nação em crise, marcada pelo início de um conflito que duraria três décadas.

Branagh, reconhecido como um dos maiores atores de sua geração, demonstra habilidade em transmitir a agitação de um garoto de nove anos em um ambiente marcado por intensos conflitos entre protestantes e católicos. A cidade que dá nome ao filme é o cenário para esta evocativa reconstrução histórica e emocional. O protagonista, Buddy, um alter ego do diretor, cativa o público com memórias não sempre precisas, refletidas na suave fotografia em preto e branco de Haris Zambarloukos, que ocasionalmente se tingem de cores vivas, evocando lembranças guardadas no fundo da mente.

A dedicatória no epílogo do filme diz que é “para quem ficou, para os que partiram e por todos aqueles que se perderam”. Branagh revive suas lembranças do verão de 1969, o segundo ano dos Troubles, uma série de conflitos de fundo religioso pelo status político da Irlanda do Norte, que trouxe sofrimento, ressentimento e destruição. Acompanhamos Buddy entre episódios de “Star Trek” e o caos que se desenrola ao seu redor: janelas quebradas, portas arrombadas e pessoas reunidas nas estreitas ruas de um bairro operário de Belfast.

Neste cenário vivem Buddy e sua numerosa família. Branagh habilmente constrói, a partir deste caos, um conjunto de personagens fascinantes. Além de Buddy, interpretado de forma encantadora por Jude Hill, destacam-se Ma e Pa, seus pais, vividos por Caitríona Balfe e Jamie Dornan. Este último, em especial, demonstra um notável amadurecimento como ator, distanciando-se de sua imagem de galã da franquia “Cinquenta Tons de Cinza” para abraçar papéis desafiadores como este, lembrando seu desempenho em “O Cerco de Jadotville”. A evolução de Dornan é notável e inspiradora.

O elenco de “Belfast” é enriquecido pela presença de Judi Dench e Ciarán Hinds, que interpretam os avós de Buddy. Dench, amiga de longa data de Branagh, já compartilhou a tela com ele em “A Pura Verdade”, onde encenaram um casamento fictício entre Anne Hathaway e William Shakespeare. Sua performance, assim como a de Hinds, adiciona profundidade à narrativa. Branagh, criado em um lar protestante, aborda com sensibilidade a angústia de trinta anos de conflito. “Belfast”, na Netflix, é, em última análise, um apelo contra a ignorância, independentemente de onde ela se manifeste.


Filme: Belfast
Direção: Kenneth Branagh
Ano: 2021
Gêneros: Drama/Coming-of-age
Nota: 9/10