A trajetória humana está intimamente ligada à história de suas guerras. Independentemente de gostarmos ou não, foi através de conflitos armados que moldamos o mundo como o conhecemos. A decisão de declarar guerra nunca é tomada levianamente; em muitas ocasiões, é a única saída para evitar a desonra, uma lição que Winston Churchill, primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial, nos deixou. Por mais sombria que seja, a guerra exerce uma atração sobre muitos, o que representa um perigo real.
Esse fascínio pela guerra é o que define Parker, a protagonista complexa de “Alerta de Risco”. Interpretada por Jessica Alba, Parker é uma anti-heroína obcecada por adrenalina, que acredita que sua vida só faz sentido no meio de caos e conflitos. Carregando traumas profundos, ela busca estabilidade até que um evento inesperado e profundamente pessoal a força a reconsiderar sua trajetória. A direção de Mouly Surya, em sua estreia no cinema de língua inglesa, extrai uma vasta gama de emoções da personagem, um feito notável considerando as limitações do roteiro escrito por John Brancato, Josh Olson e Halley Wegryn Gross. O script apresenta lacunas e explora repetidamente a natureza de Parker, resultando em cenas que deixam claro que ela não é uma personagem simplista.
“Alerta de Risco”, na Netflix, é uma obra desordenada, sem uma direção clara. A narrativa gira em torno de uma tal Operação Alice 116, levando Parker a refletir, em meio ao caos, sobre a brevidade da vida e a futilidade de suas ações, enquanto ela se encontra nas areias do deserto sírio. Antes que sua missão seja concluída, Parker recebe a notícia da morte de seu pai, dono de um bar em sua cidade natal. Incapaz de manter a frieza necessária para seu trabalho, ela é dispensada.
Surya explora um segredo envolvendo o falecido pai de Parker e uma mina na qual ele tinha sociedade. A partir desse ponto, a diretora tenta imbuir o filme com uma profundidade filosófica, abordando as complexidades dos relacionamentos entre pais e filhos e as diferenças de gerações. Em vez de os mais velhos desaconselharem as ações dos mais jovens, como costuma acontecer, aqui a situação é inversa. A diferença de perspectiva entre Parker e seu pai, que se amam, mas enxergam o mundo de formas radicalmente opostas, é explorada com sensibilidade, revelando o lado dramático de questões que poderiam parecer banais para os menos sensíveis.
No entanto, essa tentativa de profundidade é logo interrompida por cenas de ação. Alba se destaca nessas sequências, lembrando suas performances em “Assassinos Anônimos” (2019), dirigido por Martin Owen, e como a Mulher Invisível em “Quarteto Fantástico” (2005) e “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado” (2007), ambos de Tim Story. Apesar de seus esforços, o filme deixa a desejar.
Filme: Alerta de Risco
Direção: Mouly Surya
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 7/10