Ninguém discorda que a vida pode ser cruel. Feita esta ponderação, não há quem não se compadeça de um ex-aluno do MIT que volta para sua cidade natal e vira faz-tudo numa videolocadora (lembra delas?), trabalho digno, mas que, convenhamos, não demanda quatro anos de esforço num dos centros de pesquisa mais conceituados do mundo. Todo o fluxo narrativo de “Uma Noite Mais que Louca” assenta sobre essa premissa, de onde brotam subtramas estimulantes, cada qual pródiga em chances para que o elenco sobressaia. Não há nada de mais no filme de Michael Dowse, e ainda assim a história vai prendendo mais a cada cena, sem passar por cima de uma regra fundamental: tudo dura o tempo que deve durar. A grande qualidade do roteiro de Jackie e Jeff Filgo e Topher Grace é zelar pelo ritmo da história, e ao longo de 97 minutos, um fato puxando o seguinte, todos os espaços se preenchem de acessos de riso e embriões de drama, que, por óbvio, encerram-se por si sós.
Matt Franklin é o adorável perdedor a que o próprio Grace dá vida em “Uma Noite Mais que Louca”. Ele saíra há pouco do MIT, e agora está morando com os pais em Los Angeles, para onde retornara apenas para empilhar caixas no almoxarifado e rebobinar as fitas de vídeo de clientes preguiçosos que não se importam em pagar multa por essa infração. Enquanto sugere um título a uma freguesa, o pôster de Whitney Houston (1963-2012) ao fundo, a loja vai enchendo, e Barry Nathan, seu amigo desde a quinta série, chega para tumultuar um pouco mais o ambiente.
Barry é a versão cínica e desbocada de Matt que Dan Fogler transforma na grande atração do filme. Primeiro, sua fanfarronice leva-nos a crer que esteja mesmo muito bem como vendedor de carros de luxo em Beverly Hills, carreira que o obrigou a desistir da universidade — algumas cenas à frente, vai-se saber que sua frustração é mais avassalante que a de Matt —; depois, ainda na locadora, investe sobre uma mulher mais velha e é como se um vendaval passasse pelo lugar. O mocinho sofredor de Grace só não reclama da bagunça porque acaba de reparar que Tori Frederking, uma colega por quem era apaixonado no ensino médio, está vasculhando as prateleiras em busca de um VHS.
A partir desse ponto, Dowse leva o espectador a uma imersão tanto mais estendida pelos anos 1980. Depois de certo malabarismo, Matt se aproxima de Tori se dizendo um investidor lotado no escritório do Goldman Sachs em LA — decerto a fatia mais saborosa do texto, a que o diretor confere ênfase na medida no segundo ato. Ela, por óbvio, fica muito mais afável e o convida para a festa que vai reunir a turma do colégio, que continua na mansão do chefe de Tori, onde se desenrolam as situações verdadeiramente nonsense da trama, com direito a um episódio de sexo casual entre Barry, estimulado pela cocaína, uma alemã e o amigo voyeur dela; o demorado flerte entre matt e Tori, que também acaba na cama (ou melhor, num pula-pula no jardim do vizinho) e uma estúpida competição envolvendo uma imensa bola, dentro da qual o desafiante rola ladeira abaixo e saia para contar vantagem, se tiver sorte. Grace e Teresa Palmer encarnam esse casalzinho que passa por encantamento, paixão, ódio e amor durante uma madrugada, mas Fogler é quem tira “Uma Noite Mais que Louca” da mesmice sufocante desses besteiróis americanos, do mesmo jeito que fizera em “Maldita Sorte” (2007), de Mark Helfrich. Tomara que ele também para o MIT.
Filme: Uma Noite Mais que Louca
Direção: Michael Dowse
Ano: 2011
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10