Nenhum heroísmo pode ser genuíno quando é necessário adotar um espírito de luta constante, prolongando-se indefinidamente ao longo de uma existência desprovida de lógica e base sólida, descartada pelos poderosos após uma breve e negligente análise.
Essa situação de dificuldades extremas, que nos torna combatentes involuntários numa arena de vida ou morte, ainda persiste, utilizando-se das ações e excessos de cada uma de nossas atitudes, aquelas que nos conduzirão a um futuro provavelmente menos agradável que o presente já desolador que nos rodeia.
Existem grupos sociais tão fortemente constituídos que provocam a inveja das instituições formais de poder, sem comprometer valores como honra, coragem, lealdade e compromisso. Rompendo as barreiras do tempo, a máfia, muito mais que uma megaempresa de sucesso com filiais espalhadas pelo mundo, cada uma com suas peculiaridades e modo de operar, se impõe como uma visão de mundo, onde fica clara uma filosofia empreendedora que abrange seus clientes com a mentalidade de autonomia individual absoluta.
Todos são livres para fazer o que quiserem com suas vidas, e o Estado e seus representantes legais não devem interferir. No entanto, essa fachada de defesa dos direitos humanos e boas intenções desmorona uma vez confrontado o número de vítimas do abuso de substâncias e suas consequências, em contraste com os lucros das grandes organizações criminosas que prosperam com o tráfico de drogas, uma ferida aberta em diversas sociedades.
O título do novo filme de Cosimo Gomez, “Meu Nome é Vingança”, soa pomposo — e de fato é. À primeira vista, parece um épico grandioso sobre a ira contida de um homem que se vê repentinamente desapontado com as más escolhas ao longo de uma vida de misérias disfarçadas. No entanto, à medida que a história se desenrola, Gomez deixa claro seu verdadeiro propósito: destituir o protagonista de qualquer glamour que possa prevalecer em tramas similares, recusando o uso de efeitos especiais ou enquadramentos rebuscados ao focar no personagem central, uma vítima de um cerco psicológico crescente.
O roteiro, escrito com Andrea Nobile e Sandrone Dazieri, adapta-se à personalidade esquizofrênica de Santo Romeo, o mafioso de família interpretado por Alessandro Gassman. Não é a primeira vez que um bandido é batizado com esse nome, como prova o filme “Nada Santo” (2019), de Renato de Maria, que também trata de um mafioso em desgraça. Em “Meu Nome é Vingança”, na Netflix, o diretor trabalha o conflito principal de forma a convencer o espectador a dar um voto de confiança (ou, ao menos, o benefício da dúvida) a Santo, algo facilitado pela interpretação visceral de Alessandro, filho do renomado ator Vittorio Gassman (1922-2000).
A trama se desvia frequentemente e quase se perde devido à insistência de Gomez em forçar a conversão desinteressada de Santo ao público, mas a entrada em cena de Ginevra Francesconi como Sofia, a filha que descobre o passado do pai e não tem nenhuma compaixão por ele após um crime que marca suas vidas para sempre, salva a narrativa. Embora verborrágico, o filme mantém uma condução sólida, sustentada pela dinâmica entre os personagens principais.
Filme: Meu Nome é Vingança
Direção: Cosimo Gomez
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Ação
Nota: 8/10