Suspense dirigido por Jodie Foster, com George Clooney e Caitríona Balfe, na Netflix, vale cada segundo do seu final de semana Divulgação / Sony Pictures

Suspense dirigido por Jodie Foster, com George Clooney e Caitríona Balfe, na Netflix, vale cada segundo do seu final de semana

É sabido que o dinheiro é a força motriz do mundo. Embora não seja um pensamento original, a realidade de que uma fração da riqueza movimentada em uma única tarde na Bolsa de Nova York poderia alimentar comunidades inteiras no Zimbábue por dias é inegável. Agora, imagine um programa de TV dedicado a fornecer dicas a investidores, tanto pequenos quanto grandes, sem o verniz pseudocientífico típico de Wall Street, e que talvez seja até mais confiável do que os bem-apessoados gurus financeiros da elite do mercado, alcançando milhões de espectadores diariamente. Esse programa miraria o cidadão comum, frustrado por ter investido todas as suas economias em ações cujo valor despenca de um dia para o outro.

Quem é o responsável? Em “Jogo do Dinheiro”, Jodie Foster segue a trilha de um vilão onipresente na vida de todos, desde o nascimento até a morte, expondo os podres de um ambiente corrompido. O elenco de primeira linha, que confere ao filme uma semelhança com “O Lobo de Wall Street” (2013), de Martin Scorsese, porém, menos lascivo e mais cerebral, deixa claro que a questão é ainda mais profunda.

Adam Smith, um dos maiores defensores da economia de mercado e da livre concorrência, viveu no iluminado Século das Luzes, uma época de transformações revolucionárias nas artes, na ciência e na economia. Ele se revelou um visionário ao elaborar uma das teorias mais completas sobre o liberalismo econômico, que se tornou a base do capitalismo moderno. Smith, que era contra a interferência estatal na economia, defendia que os indivíduos e consumidores são livres para escolher quais empresas desejam contratar, optando por aquelas que oferecem os melhores produtos ou serviços sem comprometer o orçamento.

Nessa busca por prestar serviços melhores, as empresas se autorregulam e se aprimoram, um darwinismo aplicado ao mercado. A competição mercantil é crucial para a sobrevivência das corporações, independentemente de seu tamanho. Para as grandes empresas, em especial, essa disputa se assemelha a uma verdadeira guerra de titãs, com muitas cabeças rolando.

O roteiro meticuloso de Alan DiFiore, Jim Kouf e Jamie Linden detalha cada situação com precisão, utilizando diálogos afiados e preparando o espectador para as reviravoltas que se seguem. Lee Gates, uma alusão cínica ao fundador da Microsoft, é o apresentador do “Mad Money”, o programa mais vistoso de uma emissora liberal ao estilo CNBC. Gates é capaz de vender qualquer coisa, e os anunciantes aproveitam, enquanto bancos, fundos imobiliários e agências de risco não precisam se esforçar tanto para enganar os menos familiarizados com o jargão econômico.

Entre eles está Kyle Budwell, um jovem de 24 anos que perdeu todas as suas economias devido a uma má recomendação de Gates. Após Foster construir o perfil de seu protagonista, é a vez de Jack O’Connell entrar em cena, capturando todas as atenções, assim como fez em “Invencível” (2014) e “Terra Selvagem” (2019). Julia Roberts brilha como Patty Fenn, a diretora de VT, e Caitríona Balfe impressiona como Diane Lester, a assessora de imprensa do malandro CEO Walt Camby, vivido por Dominic West. A diretora manipula esses personagens de maneira a conduzir o filme para um desfecho surpreendente, fazendo o público torcer por um justiceiro que enfrenta sozinho as feras do capitalismo selvagem. E todos sabemos que ninguém pode enfrentá-las sozinho.


Filme: Jogo do Dinheiro 
Direção: Jodie Foster
Ano: 2016
Gêneros: Thriller/Crime
Nota: 9/10