A legislação é constantemente aprimorada para atender de forma mais justa a sociedade e fazer valer as regras de convivência e civilidade. A constituição é um acordo social com o objetivo de resguardar os direitos de existir e de possuir propriedades. Além da moral e da ética, que são subjetivas e individuais, incapazes de domar o mal, o que nos separa da barbárie é a lei e o sistema judiciário.
O problema é que, mesmo dentro de um sistema tão complexo e intricado, que tem se aprimorado e se desenhado de forma a se tornar cada vez mais eficiente e justo, ainda assim, o sistema possui falhas. Em muitas ocasiões, a justiça não parece tão afiada e forte, e sua eficiência parece facilmente quebrada. Quantos criminosos sórdidos e calculistas não saem ilesos? Quantas pessoas socialmente vulneráveis, que praticam ilegalidades por desespero e falta de amparo do Estado, são punidas com todo o rigor da lei?
“Código de Conduta”, na Netflix, suspense policial dirigido por F. Gary Gray e com roteiro de Kurt Wimmer, lançado em 2009, aborda a história de um homem em busca de justiça depois que o sistema judiciário frustra suas expectativas. Clyde Shelton, interpretado por Gerard Butler, é um engenheiro que trabalha para o Ministério da Defesa. Seu mundo é revirado quando dois criminosos, Clarence Darby (Christian Stolte) e Rupert Ames (Josh Stewart), invadem sua casa e matam brutalmente sua esposa e filha.
Clyde acompanha, durante anos, os desdobramentos do caso na justiça e, apesar de ser testemunha ocular do crime, tem seu depoimento descredibilizado por ter desmaiado durante o assalto à sua casa. Com as provas contra Darby e Ames consideradas inconsistentes, o promotor público Nick Rice (Jamie Foxx) acaba fazendo um acordo para um curto período de prisão dos criminosos.
Indignado com o destino dos algozes de sua família, Clyde decide não apenas se vingar deles, mas também de todo o sistema que os protegeu. Primeiro, ele assassina os dois criminosos de forma assustadoramente cruel em um de seus imóveis industriais, sem nenhuma intenção de esconder da justiça que foi ele o responsável pelas mortes.
Depois de preso, Clyde negocia com Rice alguns confortos dentro da prisão em troca de informações sobre os ataques que planeja executar. A princípio, Clyde é subestimado, mas conforme corpos começam a surgir e um ataque sistemático às autoridades jurídicas do Estado ocorre, ele se mostra implacável em sua busca por vingança.
É interessante como Clyde sofre uma virada de chave a partir do julgamento dos assassinos de sua família. Seu trauma o transforma em um sociopata incontrolável, que age com bastante conhecimento de causa e a sangue frio para obter suas exigências.
Com os ataques, Clyde planeja não apenas se vingar, mas também dar uma lição às autoridades. Ele quer que as falhas do sistema sejam enxergadas e corrigidas. Clyde age a todo momento com total consciência e responsabilidade de seus atos, por mais sórdidos que sejam. Nesse respeitado thriller policial, com atuações competentes de Butler e Foxx, além de participações especiais de ninguém menos que Viola Davis, é difícil escolher de qual lado ficar.
Filme: Código de Conduta
Direção: F. Gary Gray
Ano: 2009
Gênero: Suspense/Policial/Drama
Nota: 9