Fique em casa e assista: suspense com Armie Hammer é um dos melhores filmes da Netflix Divulgação / Elevation Pictures

Fique em casa e assista: suspense com Armie Hammer é um dos melhores filmes da Netflix

Ao longo da história, a humanidade tem sido marcada pela ascensão e disseminação de substâncias que governos, especialistas, e tribunais classificam como legais ou ilegais. Neste cenário se insere “Crise”, dirigido por Nicholas Jarecki, que examina o impacto devastador de um opioide fictício, o Klaralon. O filme expõe como drogas, muitas vezes vistas como revolucionárias, podem devastar vidas ao forçar os usuários a aumentarem gradualmente suas doses, levando a um tipo de suicídio em massa silencioso. Jarecki ilustra como essa crise de saúde pública alimenta uma parte da economia, sustentando o PIB dos Estados Unidos, mesmo em seus melhores momentos.

Jarecki aponta a hipocrisia das autoridades em relação à dor e ao sofrimento das cem mil pessoas que perdem entes queridos todos os anos devido à dependência de medicamentos derivados da morfina, um poderoso analgésico natural. Nos laboratórios de alta tecnologia da América, essa substância é transformada em um alívio imediato para as feridas do corpo e da alma. Como diretor e roteirista, Jarecki habilmente une diferentes perspectivas da dependência química e explora as variadas consequências do abuso de substâncias. A trama abrange as carreiras de um detetive, um professor universitário, e o drama pessoal de uma mãe devastada por uma tragédia que nunca a deixa em paz.

Diversos hábitos prejudiciais, como o consumo excessivo de álcool, alimentos gordurosos, cafeína, tabagismo e a inatividade física, juntamente com o estresse crônico, deterioram a saúde física e mental. A dependência humana na comodidade dos grandes centros urbanos contribui para um ciclo de trabalho incessante, levando à insatisfação e infelicidade. Essa realidade sublinha como o vício é a palavra exata para descrever o impasse biológico das emoções humanas.

A incapacidade de lidar com o desconforto ou desequilíbrio químico pessoal nos leva a buscar soluções rápidas, geralmente em medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos, perpetuando um ciclo vicioso. Embora a ajuda médica seja, às vezes, necessária, há várias alternativas antes de se recorrer aos medicamentos de tarja preta. O capitalismo, com sua voracidade por transformar tudo em lucro, contribui para a glamorização equivocada das drogas, que acabam se tornando temas recorrentes em músicas, programas de televisão, livros e filmes. Entre essas representações, o cinema se destaca como uma das formas mais comuns e impactantes de explorar essas questões.

Jarecki abre sua narrativa mergulhando no complexo mundo de Jake Kelly, um agente da DEA dedicado a capturar um traficante conhecido como “Mãe”. Interpretado por Armie Hammer, envolvido em um escândalo na vida real, Kelly é a essência de “Crise”. Ele se entrelaça gradualmente com Claire Reimann, uma mãe interpretada por Evangeline Lilly, que perde o filho para uma overdose de oxicodona, e o Dr. Tyrone Brower, vivido por Gary Oldman. Cada personagem se revela no momento oportuno, conduzindo a um desfecho surpreendente que desafia clichês e sentimentalismos fáceis, mantendo o espectador em constante reflexão sobre a complexidade e os dilemas do vício.


Filme: Crise
Direção: Nicholas Jarecki
Ano: 2021
Gêneros: Drama/Suspense/Policial 
Nota: 8/10