Um novo Mundo-Mãe colapsa depois do assassinato de seu rei e rainha, e as lutas fratricidas por poder tratam de minar a disposição do povo para reagir. O senador Balisarius, o novo regente, envia seu general mais atroz para perseguir os que não se conformassem com a ascensão do novo reino, os rebeldes do título.
A dúvida, o descrédito de tudo, a selvageria, a fome tornam a resistência mais inquebrantável. Em “Rebel Moon — Parte 2: Corte do Diretor”, Zack Snyder recapitula ideias-força de “Rebel Moon — Parte 1: A Menina do Fogo” (2023), petardo em que amalgama sequências de ação e saborosos delírios quanto ao que pode vir a ser a Terra caso o homem persevere em seus intentos megalomaníacos de poder, mandando a fatura para o ambiente, e faz questão de dar ainda mais ênfase à personagem central, uma heroína torta que encara tragédias íntimas e hecatombes devastadoras sem abrir mão de cutucar prazeres essenciais que julgava mortos.
Prazer, aliás, é um sentimento que o diretor, junto com os corroteiristas Shay Hatten e Kurt Johnstad, busca com declarada afervoração na natureza agreste dessa mulher machucada que a muito custo se defende da ofensiva de algozes poderosos, mistérios que, à primeira vista, encerram-se por aqui. Mas nada é tão objetivo, felizmente.
A milícia de párias, camponeses e órfãos sobre a qual Kora concentra toda a autoridade urge por vingança. Todavia, Snyder encontra um jeito de humanizar a protagonista, despi-la dos véus de pretensa santidade — e, para tal, não há melhor estratégia que chegar aos desejos mais primitivos que aquela alma sombria esconde. O diretor põe abaixo a aura de mitologia que elaborara, deixando para trás o verniz metafísico tão incensado em produções congêneres e mira uma mulher comum, tomada por anseios de liberdade para si e seu povo, mas também atraída para interesses comezinhos (e deleitosos).
A Marcadora de Cicatrizes, a profetisa santa e diabólica de Sofia Boutella, anseia por bater inimigos tão inclementes quanto os nazistas do Espaço Imperial, cujo líder Balisarius, de Fra Fee, ganha proeminência justamente por ser capaz de tocar a horda de desvalidos com promessas que não realiza e, claro, subjugando-os sem dó. Se no filme original a dobradinha de Boutella e Ed Skrein, com seu Atticus Noble particularmente asqueroso, voltando do inferno para acertar as contas com os fazendeiros de Veldt, mantém o vigor ostentado em “A Menina do Fogo”, aqui o Belisarius de Fee revela uma potência antes abafada, o que faz do vilão a grande figura da história. O novo olhar de Snyder para seu trabalho deita fora o romantismo — que faz alguma falta —, recrudesce o terror psicológico e carrega nas tintas de um conto pós-apocalíptico bastante original. Um trunfo que o diretor parece querer levar para “Rebel Moon 3”, voltado à Ordem dos 12 e uma rebelião decisiva.
Filme: Rebel Moon — Parte 2: Corte do Diretor
Direção: Zack Snyder
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Ficção científica
Nota: 8/10