O maior romance do cinema no século 21, na Netflix Divulgação / Focus Features

O maior romance do cinema no século 21, na Netflix

Poucos autores capturaram a dualidade do amor como Jane Austen (1775-1817) e suas personagens, sendo praticamente uma extensão dela mesma. Austen, uma das escritoras mais habilidosas em expor os aspectos sombrios da sociedade de sua época, principalmente para as mulheres, teve seu talento reconhecido tardiamente.

Seu livro “Orgulho e Preconceito”, publicado em 1813, é um exemplo claro de sua habilidade. Nele, Austen expressa seu desejo por uma sociedade justa onde as mulheres pudessem se desenvolver plenamente. A heroína do romance, Elizabeth Bennet, representa essa aspiração, mantendo sua integridade e independência apesar das pressões sociais. A conexão entre Austen e suas personagens nunca foi forçada, pois todas elas surgiam de suas próprias experiências e desejos de amar.

Em “Orgulho e Preconceito”, na Netflix, o canto dos pássaros ao amanhecer em Netherfield Hall continua belo, mesmo em tempos difíceis. Lizzie, com um livro nas mãos, caminha em direção à grande propriedade onde vive com seus pais e irmãs. A serenidade de Keira Knightley no papel de Lizzie transmite a sensação de que todos ali pertencem a um universo à parte, imune às perturbações externas.

Ao longo de 126 minutos, o filme revela a transformação das jovens irmãs Bennet, cujo vigor inicial se desbota com o tempo, algo realçado pela fotografia de Roman Osin. O filme de Joe Wright introduz outras personagens, como as irmãs de Lizzie, e um interesse amoroso masculino que desperta emoções variadas nelas, exceto em Lizzie, que parece satisfeita com sua independência. Knightley equilibra-se brilhantemente no turbilhão emocional de sua personagem, enquanto Wright constrói pacientemente o destaque de sua atuação.

O baile oferecido por Charles Bingley, um aristocrata que chega à região, é uma chance para as irmãs Bennet escaparem da pobreza e, talvez, encontrarem o amor. Nesse evento, conhecemos personagens como George Wickham, que inicialmente parece irrepreensível. Com Bingley e Wickham, o roteiro de Deborah Moggach ganha profundidade, preparando o cenário para o encontro crucial entre Lizzie e Darcy.

Quando Darcy entra em cena, Austen nos apresenta sua visão austera do amor, algo que Wright aproveita ao máximo. Matthew Macfadyen, como Darcy, complementa perfeitamente a Elizabeth de Knightley, e a partir desse ponto, o filme atinge seu ápice. Wright guia habilmente a história, elevando o romance de Austen ao status de uma das mais bem construídas obras literárias.

Mesmo nos momentos de tensão envolvendo Wickham e Lydia, a atração entre Darcy e Lizzie se intensifica, mostrando que foram feitos um para o outro. A habilidade de Austen e Wright em retratar a falsa aversão entre os protagonistas, que na verdade esconde uma paixão fervorosa, é magistral. Darcy e Lizzie, ao pensarem primeiro nos outros antes de se deixarem consumir por suas próprias ansiedades, conquistam o amor verdadeiro, alcançando o objetivo maior da vida sem comprometer suas almas.


Filme: Orgulho e Preconceito
Direção: Joe Wright
Ano: 2005
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 9/10