“The Postcard Killers” (2010) é, sem dúvida, o pior dos livros de James Patterson. Feita esta consideração, pode-se dizer também que “Postais Mortíferos” cumpre seu papel de oferecer entretenimento rápido, a partir do suspense que Patterson escreveu com Liza Marklund, cheio de guinadas artificiosas, soluções deus ex machina e lacunas narrativas que o sérvio Danis Tanovic esforça-se por preencher.
Se em “Beijos que Matam”, Morgan Freeman, um dos melhores atores de seu tempo, dá vida a Alex Cross, um psicólogo forense da polícia de Washington, DC, envolvido de uma forma muito mais íntima do que poderia desejar na averiguação de uma série de crimes hediondos e misteriosos em Durham, na Carolina do Norte, aqui o roteiro, uma adaptação da própria Marklund, junto com Ellen Furman e Andrew Stern, muda o nome do já célebre detetive dos best-sellers de Patterson para Jacob Kanon, um investigador do Departamento de Polícia de Nova York que sai pelo mundo em busca de um assassino em série amparado pelo desejo de colocar na cadeia o psicopata que mata sua filha e seu genro com requintes de crueldade.
Os anjos da guarda dos investigadores dos filmes sobre maníacos tão perversos quanto sanguinários, capazes de se encarniçar de uma pobre vítima pelo simples motivo de tê-la julgado atraente, ou, pelo contrário, achá-la feia demais; invejar-lhe os dotes artísticos; ou por querer que a humanidade expie seus pecados mediante o sacrifício de inocentes (que, claro, não são assim tão puros), devem estar à raia da loucura. Nos livros de Patterson, assassinos frequentam boates suspeitas, onde conhecem moças cuja bisbilhotice levam-nas ao flerte com o perigo, e, então, a mágica acontece. Em “Postais Mortíferos”, Kanon, vivido com tocante convicção por Jeffrey Dean Morgan, persegue um monstro com alma de colibri, que trucida casais apaixonados decepando-lhes os lábios e os arranjando de forma que pareçam ter partido para Eternidade num idílio terno demais para este plano.
O detetive de Morgan se abala até Londres, e de lá para Madri, Amsterdã, Munique, Estocolmo e Bruxelas, onde encontra o alvo de sua cruzada vitimou um casal gay em menção a “Dante e Virgílio no Inferno”, o quadro do academicista francês William-Adolphe Bouguereau (1825-1905). As referências à obra de mestres das artes plásticas dos séculos 19 e 20, como as mulheres de Willem de Kooning (1904-1997) e ao Edvard Munch (1863-1944) de “Beijo na Janela” (1892), são de fato o que pode haver de melhor em “Postais Mortíferos”, um suspense que falha no único ponto em que teria de ser imbatível: não engana ninguém.
Filme: Postais Mortíferos
Direção: Danis Tanović
Ano: 2020
Gêneros: Crime/Thriller
Nota: 7/10