Funciona mais ou menos assim: alguém comenta na foto da amiga: “lindaaaaa”. A agraciada pelo afago responde: “imagina, miga, linda é você”. Minutos depois a autora do comentário inicial retruca: “eu nada, você que é maravilhosa”. Por fim, em derradeiro e desnecessário fechamento, a dona da foto dispara: “rsrs, você é mais”. O diálogo acima reproduz uma postura comum nas redes sociais, nas quais o exibicionismo é alimentado por troca de confetes e frases padronizadas. Porém, mais do que um exemplo de como tem sido a interação nos tempos modernos, esse comportamento ilustra algo enraizado em nossa cultura desde muito antes do advento das curtidas virtuais: a dificuldade em receber elogios.
Chega a ser um paradoxo. Cada vez mais nos mostramos, cada vez mais gritamos através de gifs, textos, caras e bocas que queremos ser vistos e, cada vez mais, evidenciamos inabilidade em lidar com a disposição do outro em levantar nossa bola. Há, sem dúvida, muito jogo de cena. Há os que simulam timidez diante do adjetivo elogioso na tentativa de revestir a vaidade com certa dose de humildade. Reagir ao enaltecimento com o tradicional “bondade sua” retira do narciso o ar pretensioso que geralmente o acompanha. Mas, em geral, o desconforto gerado pelo aplauso é real. Talvez porque tenhamos aprendido desde pequenos que autovalor é sinônimo de soberba.
Seria tão mais fácil (e verdadeiro) respondermos aos elogios com um simples e direto “muito obrigado”. Sem rodeios, sem constrangimento e, principalmente, sem a obrigação de retribuir o agrado na mesma moeda e no mesmo momento. É necessário acreditar-se merecedor das palavras que realçam atributos. Deixar de lado a frase “são seus olhos” como mantra que devolve a gentileza em vez de se apropriar dela.
Ouvimos na igreja e na escola que devemos ser contidos. Ai da criança que complete o “como você é esperto, garotinho” com “sim, sou mesmo”. São tapas na orelha e olhares tortos sugerindo que seja menos espontaneamente exibido. Adultos, insistimos nessa toada. O elogio à comida caprichada é seguido de um “capaz, tão simples”. O trabalho reconhecido em razão de esforço e dedicação próprios se transforma em “sem vocês eu não teria conseguido”. A roupa apreciada na festa “é baratinha, menina. Liquidação”.
Cai bem frearmos ímpetos de autobajulação. É admirável o altruísmo que credita a mais gente realizações pessoais. É antipático colocar-se sempre como centro das atenções e forçar os holofotes para si. Mas nada disso impede que sejamos benevolentes com nossos méritos e os enxerguemos como legítimos. É preciso libertar os elogios da cruz que os moraliza sob o argumento de que desvirtuam almas humildes. Sejamos bons, aceitemos que reconheçam isso, fiquemos felizes com a delicadeza dos que nos veem com apreço e cordialmente manifestam isso. E, desde já, obrigada a quem disser que o texto é bom!